Após nos entregar seu livro, Metamorfose da Vida, eis que a Marcia de Assis nos reserva um tempinho para responder algumas perguntas. Confiram a entrevista completa abaixo: Desenhando em Letras: Primeiro, gostaria de agradecer pelo carinho, pela confiança em meu trabalho e pelo tempo que você dispõe para responder a essas perguntas. Segundo, para dar vida à Metamorfose da Vida, seu primeiro romance, foi necessária bastante pesquisa, pois a personagem é escocesa e a cultura nesse país europeu é completamente diferente da nossa. Por que optou por usar esse país, especificamente, como pano de fundo?
Marcia: Certa vez, vi no discovery channel, que a Escócia era um país essencialmente místico, que concentra lendas de bruxas, fantasmas e castelos mal assombrados. E esses me ajudaram a compor uma atmosfera sombria e nublada para a protagonista, que vivia no “escuro”, não sabia nada da vida, não tinha nenhum preparo, nenhuma malícia. E é justamente assim que nos encontramos quando não temos conhecimento. Será que fui feliz nesta metáfora? Desenhando em Letras: Na obra, a aldeia indígena que é apresentada, a Inamawá, não teve muito contato com o “homem branco”, então há ainda uma certa rusticidade. Eles têm a infelicidade de ter seu território devastado por uma madeireira ilegal, e veem no próprio homem branco a sua salvação. Por que essa abordagem, já que os homens brancos sempre foram a causa da destruição da cultura indígena? Marcia: Achei que seria uma forma justa do homem branco se redimir com o histórico de exploração. O que é mais engraçado é que no dia 15/3/15 esta foi exatamente a chamada do Fantástico: “índios que vivem isolados sofrem invasão de madeireiras ilegais e pedem ajuda”. O texto foi escrito em 2012, mas infelizmente, este problema é ainda mais antigo. Achei que como cidadã brasileira eu devia fazer esta denúncia. Aprecio a literatura com engajamento social. Resgatei o indianismo de José de Alencar e o realinhei aos dias atuais com as cores cruas do realismo. Desenhando em Letras: A personagem Vida traz consigo a marca do desesperado, consequentemente, da própria infelicidade. Diversos autores deixam o roteiro apenas fluir. Você idealizou toda essa trajetória para a protagonista, ou deixou ao acaso? Marcia: Quando eu sentei decidida a escrever um livro, juro que não pensei em nada. Apenas sentei diante do note, e o texto fluiu como se alguém estivesse ditando. Meus dedos batucavam freneticamente e quando vi os personagens e seus conflitos se desenhando diante de mim foi uma sensação única. Agora, depois de quatro anos, vejo que eu estava escrevendo a minha própria trajetória, cheia de percalços, revelações e mudanças. Desenhando em Letras: Um ponto forte do livro é a abordagem acerca da Morte; a maioria dos personagens teve alguém cuja vitalidade fora roubada pela “dona de preto”. Amana, meia-irmã índia de Vida, a vê com naturalidade, algo banal da existência de toda criatura. Qual é a sua visão a respeito da Morte? Marcia: Pode parecer frio, mas enxergo exatamente como Amana: a morte é algo natural a todos os seres vivos. Inevitável. Eu diria ainda que a morte é um mecanismo inteligente de limpeza. Se não fosse a “dona de preto”, como bem mencionou, isto aqui estaria inabitável. Certamente o homem já teria antecipado a exploração de outros planetas. Desenhando em Letras: Metamorfose da Vida lhe rendeu o título de membro correspondente na Academia de Letras do Brasil seccional Araraquara, justamente por seu caráter denunciativo quanto a questão ambiental. Qual foi a sensação ao ter seu trabalho reconhecido? Marcia: Eu acredito que todo escritor busca isso, mas no meu caso, aconteceu mais rápido do q eu esperava. Demorei semanas para digerir esta notícia. No dia da posse, 11/9, acho q vou surtar. Ainda estou em êxtase! Espero conseguir mais títulos e premiações! Quero seguir escrevendo. Quero contribuir ainda mais à literatura brasileira. Desenhando em Letras: A obra por si só tem uma mensagem bastante reflexiva, tanto na questão ambiental, como a morte, os costumes que julgávamos esquecidos ou até mesmo culturas que não nos permitimos conhecer – ou ignorávamos. Qual tinha sido a sua intenção ao criar a história? Você julgou necessário esse aspecto analítico? Marcia: Sendo bem sincera, eu criei esta história com a única intenção de realizar o sonho de publicar um livro. Ou seja, não pensei em público, mercado editorial, margem de lucro, apelo comercial, enfim...no entanto, a medida que fui escrevendo, percebi que tinha o dever de oferecer ou compartilhar reflexões. É esse o papel da literatura: fazer-nos pensar em nosso lugar no mundo. Sendo assim, eu quis proporcionar ao leitor, algo mais profundo do que um romance erótico superficial. Mas não é todo mundo que está preparado a uma leitura um pouco mais “densa”. Desenhando em Letras: Para encerrarmos, qual é a mensagem que você passaria para as pessoas que ainda desconhecem o seu trabalho? Marcia: Eu gostaria de convidar os amantes de literatura a conhecer Metamorfose da Vida, uma obra que traz mensagens de superação, persistência, busca espiritual e amor. Vamos apoiar a literatura nacional! Marcia, muito obrigado por essa incrível experiência. *....* Leia a Resenha de Metamorfose da Vida |
|