Sinopse Uma assustadora coletânea das nossas mais famosas lendas rurais em uma interpretação sombria do nosso ensolarado nordeste Reconstruindo mitos e lendas nordestinas, Maldito Sertão, de Marcio Benjamin, desperta em você os mais assombrosos pensamentos. Com uma linguagem um tanto coloquial, realçando as origens daquelas terras, podemos nos arrepiar a cada conto apresentado. Embora a ideia seja assustar os leitores com lendas de lobisomens, fantasmas e mulas-sem-cabeça, o livro tem um teor crítico e cômico, por assim dizer. Explico: a comédia surge como brisa suave para as pessoas que estão acostumadas com a narrativa "certinha", principalmente quando deparadas com expressões como "arrudiar". O senso crítico do livro se percebe justamente quando o autor faz uma análise bem estruturada acerca de aspectos corriqueiros dos nordestinos, e não deixa de incluir certas incoerências na Igreja Católica - principalmente se tratando de uma religião que - no nordeste - está muito presente desde que nos entendemos por gente. O primeiro conto, Casa de Fazenda, foi sem dúvida o que mais me instigou. Em uma narrativa fácil, podemos sentir toda a apreensão que pessoas comuns sentem quando a morte se aproxima lentamente, bufando em nossas "cacundas", trazendo consigo garras afiadas. "Apoiado na espingarda, o velho já não tinha mais a força: sentia como um bacurim deitado em cima do peito. Um punhado de areia soprando em seus olhos cada vez mais pesados." Estradinha de Barro nos faz refletir acerca do quanto parecemos insignificantes perante a tudo, o quanto a falta de dinheiro, de comida, nos torna mesquinhos. O conto narra os desaparecimentos de crianças pela cidade. Crianças que voltam abarrotadas de dinheiro. "Naquela vila, o dinheiro que aparecia abrandou a vigília dos pais; o que se comenta é que tem uns, já cansados de apanhar da fome e da seca, que à noite rezam para o seu menino desaparecer." Por se tratar de contos, sem ligação alguma entre eles, não podemos estabelecer uma análise mais ampla, mesmo porque afetaria a forma como cada leitor veria a história, mas, de forma geral, Maldito Sertão foi feito exatamente para os amantes do terror. Aqueles que não costumam se aventurar nesse gênero literário, possivelmente não visitarão o sertão após o término da leitura.
COMPRE AGORA FALE COM O AUTOR Sinopse Em 1996, Vida Sinclair, uma jovem escocesa criada na isolada comunidade de Old Valley, se vê sozinha no mundo quando seus pais adotivos são assassinados. Ela descobre através de Brianna, uma tia misteriosa, que foi adotada porque a mãe biológica, sua irmã Bonnibelle, foi dada como morta num trágico acidente de automóvel, e que seu pai biológico é um antropólogo de quem não se tem mais notícias desde que partiu para o Brasil, em meados de 1979, a fim de pesquisar a aldeia indígena Karipós, embrenhada na floresta amazônica. No entanto, ele e seu colega de pesquisa Lazarus Lefréve se deparam com a aldeia inamawá, dos índios invisíveis. Depois de sofrer queda de uma árvore, Gordon nunca mais é visto. Vida cresce, tem a sorte de conhecer o Professor Lefréve, torna-se antropóloga e, aos vinte e cinco anos de idade, empreende uma expedição para encontrar o pai. Mesmo atingindo seu objetivo, ela se sensibiliza com a situação da tribo ameaçada pela ação predatória de uma madeireira ilegal. Juntamente, com Blake, um colega de turma por quem sempre nutriu os antagônicos sentimentos de atração e intolerância; José Antônio, seu vizinho português que cria um plano para acabar com a extração ilegal de madeira; e Amana Inamawá, sua meia-irmã índia, Vida descobre que apesar das distâncias, as ações de todos nós afetam até mesmo quem vive em outro continente, pelo fato de tudo estar ligado numa rede invisível tecida pelos Criadores. Os quatro jovens aventureiros têm a chance única de conversar com o primeiro Criador. Segundo a lenda inamawá, há mais de um deus ou criador, incorporados às árvores das florestas, por isso são consideradas sagradas e devem ser preservadas. Estórias fabulosas, desencontros, encontros, romance, violência e conflitos sociais movimentam a vida de Vida Sinclair e dos demais personagens. Se algum dia já lhe disseram que a vida é uma tarefa fácil, que não haveria preocupações na sua jornada até a linha final, a morte, o iludiu completamente. A vida é um desafio contínuo, uma luta árdua por um espaço ao Sol, mas o que esperar de uma garota que traz essa simples palavra em seu nome? Que desde seu nascimento carrega dois tipos de vida: a sua própria essência vital e seu nome de batismo? Com certeza, nada de bom. "Vai se chamar Vida, que para nós, escoceses, significa amada, e no português, significa o espaço de tempo entre o nascimento e a morte." Vida Sinclair se vê, de uma hora para outra, sozinha no mundo. Quando seus pais adotivos são brutalmente assassinados, a única coisa que a garota poderia fazer era se isolar de todos de sua "aldeia" a fim de se definhar por completo, se perder entre os pensamentos de lamento, dor e revolta. Poderia. Decerto, o destino prega peças naqueles que julga desfavorecidos. O que parecia o fim, se torna o início, quando uma suposta tia, Brianna, resolve levá-la embora. O que a motivou a seguir uma mulher desconhecida numa jornada que parecia não ter fim, nunca saberemos dizer. Talvez a ausência de entes queridos, talvez a simples vontade de sumir, de esquecer aquele lugar onde teve seu único ponto de esperança roubado. Por viver em uma comunidade isolada, Vida precisa se readaptar ao mundo, às tecnologias que, embora sejam simples ao nosso olhar, são tão complexas como a existência do tempo para ela, e se maravilha como uma criança que ainda está dando seus primeiros passos. Como se isso tudo não fosse o suficiente, Brianna resolve lhe contar seu passado, desde que nascera numa família de camponeses até quando a sobrinha fora abandonada. Descobrimos, por fim, que Vida descende de bruxas. Errou, se pensou em magias voando de um lado para o outro e ondas de energia cruzando os céus. Brianna carrega a magia em sua mais pura simplicidade; colhe ervas, faz unguentos de cura, poções de amor e diversas outras feitiçarias. Uma jogada de mestre, devo admitir, pois retratou o que as bruxas eram em suas origens - ao menos o que deveria ser. Com uma forma indescritível de escrita, Marcia de Assis nos mostra como a jornada de uma típica garota escocesa, afastada de tudo, se torna uma incansável busca por respostas. Inicialmente, Vida descobre que, segundo os relatos de sua tia, sua mãe biológica teve a infelicidade de ser perseguida por fantasmas vingativos, o que culminou na sua morte precoce - resultado da queda de um penhasco. É compreensível que a garota, ainda aos seus quinze anos, fosse tomada por diversos sentimentos, da tristeza à dúvida. O que parecia um choque, tornou-se algo mais complicado (...) O ponto chave do enredo começa a partir do momento em que Vida adquire uma ideia resoluta em busca pelo pai desaparecido. Nessa caminhada, ela cruza com diversas pessoas. Dentre elas, podemos citar Blake, um afro-irlândes, colega de classe e que, no início, parece ser um encrenqueiro de primeira. Tudo começa com uma disputa pela nota mais alta da turma – ambos desejavam destaque, cada um por um motivo específico. Mas o que devemos, sempre, levar em conta é que nem tudo se resume a aparências e que as pessoas nos surpreendem, e, sendo dessa forma, Vida também se admirou ao notar que Blake era um galanteador de alto escalão (...) Com o desejo insaciável de querer conhecer o pai que nunca vira, Vida se torna uma antropóloga – profissão que fez a figura paterna vir ao Brasil, e desaparecer na Amazônia. – e elabora uma expedição. Em território brasileiro, a jovem conhece Amana, sua meia-irmã índia, jovem de personalidade e ideais tão fortes como aço: As pessoas morrem. Todos nós vamos morrer um dia. Na natureza, convivemos com o nascimento, o crescimento e a morte. Algumas plantas duram mais que outras, e assim acontece com os animais e com os homens. O que de imediato parece mais um dentre tantos outros romances, Metamorfose da Vida se mostra uma obra de conscientização - o brasileiro, talvez por ter sido explorado por séculos, e por séculos ter sido concebido pelos estrangeiros como um povo pobre, infelizmente tende a desvalorizar o que o país nos oferece - e prioriza a preservação ambiental. Em parágrafos curtos, a leitura é rápida e aprazível, e foi uma ideia genial unir contos indígenas com a cultura escocesa. COMPRE AGORA! Fale com a autora Ficha Técnica: ISBN-13: 9788543700977 ISBN-10: 8543700973 Ano: 2014 / Páginas: 268 Idioma: português Editora: Baraúna Texto de Lucas Kolombeski O que aconteceu naquela tarde de quinta-feira que antecedia a Páscoa ficou guardado em um lugar especial da minha memória. Na mente dos humanos, porém, talvez tenha ficado apenas nas estatísticas.
Só mais um, como disseram. Os homens fardados que ali estavam a serviço de paz, não só naquele dia específico, mas sempre, travavam uma guerra interminável. A guerra, dita contra as drogas, era um pretexto para aniquilar em massa os pobres inocentes. Pobres, e negros. Complexo do Alemão, 2 de abril de 2015. Fico escondida entre as paredes dos casebres que dominam o local. O fragor vindo de direções opostas preenche o vazio que resta nesse silêncio fúnebre. Meu trabalho por aqui não é raro. Dia após dia, noite após noite, ando por aqui atrás de almas que esvaiam dos corpos sem vidas. Mas não esperava que hoje o dia terminaria dessa forma. Observo a casa em frente de onde estou. Atravesso a viela sem ao menos tocar o chão e trago junto de mim a habitual tristeza. Entro pela janela. Mãe e filho estão no sofá, vendo televisão. Fico do lado da mulher, em pé. Não sei se ela tem ciência do cruel e injusto destino que rege a vida de seu menino – e a dela também –, mas sinto que seu olhar difere do comum. Instinto materno, é do que chamam isso. O rapaz suspira, levanta e se dirige à varanda de casa. Num instante está sentado novamente. Começa um tumulto lá fora e se ouve um grito de “Vagabundo!!” abafado por um ódio nato. Me aproximo do jovem que espia o céu. Um único tiro. Uma mísera bala perdida. Perdida? A mãe do menino assiste, incrédula, o crânio de seu filho bater no chão. Nesse momento eu já deveria ter me retirado, contudo algo me prende por mais um instante. Sua voz expressa um desespero sem tamanho, uma dor que jamais será curada. O homem responsável pelo disparo, fardado, alcança os olhos da mulher, que retribui vociferando em sua direção. O policial, por sua vez, aponta a arma para ela. Ela, chorando, afirma que ele já tirou sua vida. Os vizinhos e amigos agora circundam o local do fato. Hoje, véspera do dia em que se celebra a morte de Cristo, não é a Virgem que segura seu filho amado no colo, mas Terezinha Maria, mãe de Eduardo de Jesus, menino de 10 anos de idade, assassinado com um tiro de fuzil a queima roupa, dentro da própria casa. Só mais um, como disseram. Tão frio, tão escuro, tão distante, tão... solitário.
Há muito tempo, passei por uma experiência similar, mas era quentinho e não me sentia só. Podia ouvir a sua respiração, podia sentir o carinho que ela depositava sobre mim. Era meu cantinho quente, também escuro, mas eu não estava perdido. Sabia que ali ficaria por muito tempo, e que depois a veria. Conheceria seu sorriso, ouviria com mais nitidez aquela risada aveludada, e poderia contemplar seu olhar: como ele seria? Não tinha essa resposta. Lembro-me de estar agachado quando notei uma forte luminosidade. Não era a hora, ainda não estava pronto, pensei. O que diabos estava acontecendo? Por que está fazendo isso, mamãe? Foram perguntas não respondidas. Quando acordei, meus olhos não estavam mais fechados, mas a escuridão me rodeava, tal como agora. Era assustador, eu podia vê-la. Eu sabia como era a minha mãe. A mulher que me arrancou de seu útero, de meu cantinho quente, estava ali. Não sei quanto tempo se passou, mas ela segurava uma criança em seu colo, acariciando-lhe o rosto gentilmente; não era eu. Por que ele recebeu a oportunidade? Eu não era digno de vê-la pessoalmente? Nunca soube. A criança cresceu, e logo se tornou homem. Ainda podia ver minha mãe, mesmo de longe; a idade havia sido cruel, toda a sua beleza tinha dado lugar às marcas da velhice. Espere, o que é isso? Estou de volta, regressei ao meu cantinho quente. Parece que agora terei a chance de conhecer a mulher que, mesmo tendo me jogado fora certa vez, amo. Quanto tempo terei que esperar para ver a luz do dia? Parece que o dia chegou, vejo uma luz incômoda ao longe. Tão frio, tão escuro, tão distante, tão... solitário. Pelo visto, nunca fui a criança desejada. No dia 01 de abril de 2015, o rapper francês Stromae, publicou no YouTube um clipe em animação da música Carmen. O clipe mostra claramente o vício que muitas pessoas - inclusive eu - possuem em redes sociais. Tudo começa com o passarinho do Twitter que, ao ser alimentado constantemente, assume uma forma monstruosa. Decerto, a questão que fica na nossa cabeça é: o quanto estamos dispostos a arriscar nos envolvendo virtualmente? O protagonista do clipe deixa tudo em segundo plano para se empenhar em suas atualizações diárias nas redes sociais, e aos poucos é tragado pelo vício, sem notar. Simples assim. Tal como o vício em drogas e bebidas, o vídeo mostra que o vício virtual também pode se tornar um problema. Confiram: Sinopse Contos de Som e Silêncio é o título da coletânea em que todos os contos são inspirados em letras de música. Dessa forma o leitor se deparará com releituras de obras como Construção, Deu pra ti, A Novidade, O Meu Guri, Encontros e Desencontros, Um homem chamado Alfredo, O menino da porteira, Medo da Chuva, Exemplo, Ronda e Lanterna dos Afogados, além das internacionais Carmen e Wings. Os autores são Alexandre Braoios, Bertolina Maffei, Carolina Flores, Clara Oliveira, Érika Gentile, Evelena Boening, Fatima de Barros Plein, Fernanda Carvalho, Isi Caruso, Jussara Maria Nodari Lucena, Marcio Tadeu Furrier e Valesca dos Santos Pederiva. Eles nunca se encontraram ou tomaram café juntos, mas estarão agora reunidos em páginas impressas de um livro com iniciativa pioneira, disponíveis em estantes e bibliotecas. Sempre ouvi dizer que, perante a morte iminente, toda a nossa vida se passa diante dos nossos olhos como um sonho, uma miragem tênue no horizonte. Esqueceram de me contar que não é a morte que traz esse déjà vu, e que essas memórias surgem por algo mais simples, mais corriqueiro: a apreensão.
Quem diria que a tensão dos momentos finais de seu casamento, instantes antes da frase tão memorável, que ressoa na cabeça das mulheres mais apaixonadas, “eu aceito”, traria sentimentos tão nostálgicos, e pior: despertaria dúvidas, um turbilhão de pensamentos negativos sobre o seu futuro? Em Medo da Chuva, da querida Carolina Utinguassu, presenciamos de perto – por que não dizer de dentro? – toda a aflição de um noivo, José Henrique, prestes a se comprometer pelo laço do matrimônio, e que, após refletir sobre toda a sua vida, desde os tempos de sacerdócio até aquele momento que parecia se prolongar por horas a fio, resolve abrir mão daquilo que muitos julgariam como felicidade. O que muitos não sabem, ou simplesmente ignoram, é que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado só uma vez. O conto, inspirado na música de mesmo nome do grande Raul Seixas, se desenvolve deliciosamente bem. Com parágrafos milimetricamente calculados, podemos sentir e viver toda a angústia e alegria do protagonista. E também podemos notar o quanto a sociedade está enclausurada por seus dogmas e conceitos, e, principalmente, como a perplexidade se mostra aparente quando, finalmente, nos desprendemos dessas estimas e resolvemos mudar; o quanto a mudança se faz necessária, e tudo que estamos perdendo quando ela surge, mesmo que por um buraco pequeno apenas, e a deixamos passar. Por se tratar de contos, não posso entrar em detalhes para não perder tanto o impacto da obra, mas... com uma proposta inteiramente nova - ao menos eu nunca havia visto antes - o livro Contos de Som e Silêncio apresenta diversas histórias inspiradas em músicas de grandes nomes. Outro conto que me chamou bastante a atenção e que, de certa forma, me marcou foi A Novidade, de Alexandre Braoios. Ele retrata claramente o que ainda vivenciamos: o espanto diante de tudo o que é novo, a assombração por trás de qualquer inovação. Duas pessoas de personalidades diferentes se veem em uma mesma situação. A situação, entretanto, fora apresentada de maneiras opostas para ambas, mas as duas deveriam dar o mesmo fim para o problema – ou solução que se apresentaria. Quando deparados com uma criatura surreal, começa um conflito gritante por moralidade, talvez. Assim como na época atual, o novo impressiona e cativa uns, mas, na maioria dos casos, incute um terror animalesco – quando, apesar de todo o nosso medo, tiramos forças para enfrentar o perigo e seguirmos em frente. Em uma breve reflexão, o conto mostra o perigo de se admirar ou não aceitar a novidade que surge. A mensagem apresentada no texto é justamente para que acolhamos a tudo e todos, e que o diferente também é bom. Ficha Técnica: Ano: 2013 Páginas: 88 Idioma: português Editora: wwlivros ISBN-13: 9788577275205 ISBN-10: 8577275205 Sinopse Júbilo, um povoado protegido e invisível aos olhos da humanidade. Onde a paz reinava, até que um dia encontrou-se maldade e ganancia no coração de um dos guardiões. Mateus toma posição e recruta oito jovens ... ... Artur sempre viveu com seus pais na terra, uma família normal aparentemente. Mas tudo muda quando descobre quem realmente é. Embarque nessa história e junto de Artur desvenda os mistérios deste mundo oculto. Nada é tão ruim que não pode piorar. Artur teve duas vidas roubadas: a primeira, logo no início, quando descobriu ser filho adotivo. E a segunda quando, finalmente, reencontrou seu pai biológico, e teve a infelicidade de vê-lo morrendo diante de si.
O rapaz não sabia – como poderia? – que ao aceitar partir em uma aventura (Ele não é o Bilbo nem Gandalf foi buscá-lo) sua vida poderia ser revirada de tal forma. O Nono e a Raposa Mestiça narra, em parágrafos breves, a vida de Artur Martins, um garoto bem humorado (ranzinza às vezes), que logo no início é convidado – querendo ir ou não – a partir para uma cidade invisível chamada Júbilo. “Você não tem escolha. Você Já nasceu assim”. Nada é claro como o garoto gostaria ou merecia que fosse, então sua estadia nos primeiros meses em um ambiente totalmente diferente do que está habituado, torna-se uma tortura: repleto de dúvidas, vira-e-mexe, Artur se revolta, e acaba ferindo – com palavras duras – as pessoas que tentam protegê-lo. O auge da trama é desenvolvido quando o garoto parte, juntamente com o “cara que o levou a esse mundo estranho”, para uma reunião na Casa Guarda-guarda. Ali, em meio a tantos questionamentos que se passam em seu âmago, Artur tem, mais uma vez, algo tirado de você (ou se supõe isso). “Seus olhos lacrimejavam e forçava-se para não gritar, pois, realmente, se sentiu estranho, excluído de todos. E veio a dúvida renascer: o que ele estava fazendo ali se não tinha uma raposa? Mesmo não sabendo a utilidade delas, só sabia que queria uma.” Confesso que depois de ler a respeito dessas criaturas, eu também queria uma. Um romance surge como segundo plano, ao mesmo tempo em que uma batalha, uma bomba relógio, promete explodir em instantes. Iniciante na literatura fantástica, é espantoso como o autor, Anderson Martins Moura, nos faz transportar tão maravilhosamente por uma cidade incrível. Há momentos em que, simplesmente, o leitor tenta não voltar para a realidade em que vive, pois Júbilo é muito mais do que atraente, é encantadora; imagine que há um mundo invisível diante de si, mas que se abre a um simples toque de seu dedo. Agora, idealize tudo o que de mais belo vier à sua cabeça, delete-o e substitua por algo inteiramente novo, que você não conhece, mas sabe que existe; uma beleza sem igual – sem definição. Júbilo é exatamente assim: não há palavras o suficiente para descrever as maravilhas da cidade, porque ela se transforma, nos mostra sempre algo novo, mas nenhuma visão é menos admirável que a anterior. A história terá continuação, então devemos deixar um suspense pairar no ar. No geral, o enredo é fascinante e, por ter parágrafos sucintos, a leitura é rápida e prazerosa. Ficha Técnica
Sabe aquela paixão ardente, aquele fogo incontrolável, que você não sabe explicar como surge, o motivo de surgir ou o que exatamente está fazendo ali? Pois é, confesso que há muito não sinto, mas já senti em minha juventude. Uma paixão inexplicável, que me fez sofrer arduamente. Minha amada, Marieta, era uma megera; cruel e rude, cujo sentimento maior era o ódio. Só percebi isso quando a máscara da paixão me tombou da face, entretanto fora tarde demais: eu já estava laçado pelo compromisso do matrimônio. Eu a aturei durante longos sete anos, e minha repulsa por tal criatura fez com que minha pesada mão a esbofeteasse centenas de vezes, enquanto ela me implorava pela vida. Eu experimentei a alegria de sentir sua vida se esvaindo pelos meus dedos. E, deixando seu corpo ensanguentado no chão, fugi. Pensei que Marieta estivesse ardendo no mar de fogo do Inferno, mas há três dias tive uma triste notícia. Quando voltava de meu serviço encontrei, sobre minha escrivaninha, uma carta. Meus olhos não acreditavam naquilo que viam: a letra de Marieta. Eu tropecei em alguns móveis que estavam dispostos ao longo do aposento oval, quase caiando em cima de um porta guarda-chuvas que eu havia colocado ao lado de um balcão antigo. Eis aqui a carta, que, acima de tudo, estava delicadamente perfumada por um leve aroma jasmim: “Dário, Embora você tenha sido, ao longo desses anos, um ser repulsivo, de atos puníveis, venho dizer-lhe que o aceito de volta. Poderia expor nessa folha de papel, enquanto vejo a tinta escorrer-lhe tremulamente e minhas lágrimas borrar-lhe, seus maiores defeitos, mas sou uma dama. Não sei ao certo o que me leva a idealizar ou dizer tais coisas, mas eu o amo como nunca amei ninguém. Quero que o seu corpo quente reaqueça minha alma eterna. Querendo ou não você já tem um lugar ao meu lado, Aqui viveríamos em paz, e você, querido, se tornaria uma pessoa melhor, como eu sempre fui. Eu te perdoo. Nosso amor não morrerá mais. Para sempre sua, Marieta.” Assim que tinha terminado de ler, a carta começou a arder, e um fogo a tomou como sua. As labaredas se infiltraram através do papel fino, desfazendo aqueles letras escuras, até arderem em um fogo azul. Soltei a maldita a tempo; meu dedo mínimo apenas foi chamuscado. Até agora não sei se tudo foi real, mas uma coisa é certa: tenho lugar ao lado da minha eterna Marieta Naquela tarde, o Sol chorou de tristeza. O corpo do homem estava estirado no chão, e sob sua cabeça formava-se uma poça torta de sangue. Um garoto, cuja inocência lhe fora roubada, segurava um revólver, que insistia em escapar por seus dedos finos. Que destino cruel, pensou. Ele não queria nada além do dinheiro que o idoso, agora morto sobre o asfalto, sacara há uns minutos do banco. Ele tinha mesmo que reagir? questionava-se mentalmente. Não importava mais, não agora que os policiais o arrastavam para o camburão. Qual seria a sua pena? Alguém teria pena de quem não poupou a vida de um senhor tão estimado? Provavelmente, não.
Pena dura, dura pena. Que ideia sofrida. Três anos de reclusão? Sim, isso bastaria. Os mais radicais diriam que a pena foi branda demais, há quem defenderia um julgamento mais severo. Por quê? Bom, não interessa. Não agora que o garoto estava solto outra vez. Dezoito anos era a sua idade, seus pensamentos quanto ao mundo, a sociedade que o rejeitara, não se alteraram. Ele odiava a todos, e ainda... AINDA considerava uma injustiça te privarem da liberdade por tamanho tempo. Se fosse julgado como maior, provavelmente seria solto num prazo mais curto. Pensava. De toda forma, não era um pensamento tão errado assim, não é mesmo? Ainda que o destino te prive de tudo o que julgas essencial, ele ainda pode lhe surpreender. Pode? Não esteja tão certo disso. Aliás... destino? Acredita em tal fenômeno? Ele não acreditava, então foi um susto enorme quando conheceu Bruno. Bastaram apenas alguns meses: coração acelerado, transpiração anormal. Anormalmente normal. Como? Sim, estava amando. Novamente, pena dura, dura pena. Que pena, um homofóbico gay. Que ironia. E agora, irá sofrer por um amor que não podes declarar? Melhor, não se pode ter tudo na vida, não é mesmo? Esse pensamento é mais constante na vida de quem teve tudo tirado de si desde muito cedo. Decidiu! Trancou seus sentimentos dentro de seu coração e engoliu a chave. Mas Bruno também sentira algo e investiu. Investiu, até que o garoto cedeu; se entregou à paixão. Deixou seus preconceitos de lado e resolveu ser feliz. Feliz? Lembra do senhor que você assassinou? Era meu pai. Foram palavras ditas por Bruno, enquanto a arma lhe escorregava das mãos, e o garoto, coitado - Coitado? - tombava no chão. Fugindo um pouco da temática do blog, recentemente me disseram: "A gente fala muito no racismo. Se deixássemos de citá-lo, ele não existiria."
Isso é sério? O racismo não existiria se não o mencionássemos? Não citamos em demasia as mortes que são causadas pelo cyberbullying, as opressões e estupros que as mulheres sofrem no Oriente Médio, e também não saímos falando por aí sobre a fome na África, ou a desigualdade social na Indía. Esses e muitos outros assuntos são deixados em segundo ou terceiro plano, e nem por isso deixaram de existir. Pelo contrário. Quando damos as costas para um problema de tamanha magnitude, só deixamos espaço para que as pessoas - que usam e abusam da falta de um governo com leis firmes - se sintam na liberdade de praticá-lo. A gente fala justamente para denunciar, a gente fala para conscientizar, e a gente fala, sim, para que ele deixe de existir. Quanto mais visibilidade um problema tiver, mais serão as chances para uma resolução adequada. |
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