SINOPSE: Varke – A Cidade do Muro. Enquanto seus pacatos habitantes tentam levar uma vida normal, a cruel ditadura militar que governa o país oprime a todos com leis e penas cada vez mais duras. Em meio a esse cenário de caos, onde uma série de mortes sem explicação amedronta ainda mais a população, uma curiosa garota vai lutar contra tudo e todos para descobrir o que existe por trás dos muros e dos segredos que eles escondem. Uma emocionante história de amores e desafetos onde, apesar de tudo o que o destino nos reserva, os javalis continuam sempre marchando. Eternamente. Mais que um romance entre dois jovens, A Marcha dos Javalis, da autora Esther Lya Livonius, é uma crítica severa à opressão militar que, embora não seja evidenciada de forma mais rigorosa atualmente no Brasil, ainda atinge a maior parte da população e que pode, caso não nos policiemos, se exacerbar e se propagar pelo país.
Através de parágrafos breves e bem construídos, conhecemos Varke, a cidade do Muro, e seus habitantes. Em especial, somos introduzimos ao mundo particular de Kyia e Asir. Ambos, ainda na tenra idade, sentem uma paixão latente um pelo outro, que se intensifica com o passar dos anos, resultando em sua união conjugal. Durante quatro anos, os jovens sentiram, lamentaram e questionaram a morte de seu amigo e primo de Asir, Wile. Uma morte sem explicação, segundo as autoridades. O povo de Varke, ainda que não tenha resposta para muitas outras mortes que surgem a cada ano, apesar de serem submetidos a um toque de recolher, ter que se esconder nos limites de uma cidade guarnecida por um muro, se acovardou, desistiu de lutar, de tentar impor seus direitos, deixou de ser livre. Em contrapartida, um brilho fosco é despertado no âmago de Kyia, que é impulsiva e determinada; o tipo de mulher que todo homem quer por perto, seja para se sentir protegido com sua presença forte e impetuosa ou para “domá-la.” Após se deparar com um abuso policial, a mulher coloca a sua própria vida em risco, desafiando-o. Aí começa a afronta ao governo. “Vivemos num mundo onde falar é restrito. Ler é limitado. Escrever é censurado. E pesquisar é ilegal.” Como podem ver, os moradores de Varke vivem numa ditadura. Contra quem Kyia teria que lutar, a quem poderia recorrer? Às autoridades policiais, juízes, prefeitos? Não, não é bem assim que as coisas funcionam em um sistema ditatorial. As ditaduras sempre se utilizam de força bruta para manterem-se no poder e a aplicam de forma sistemática e constante. Além disso, todos esses servidores obedecem a uma instância maior, portanto é de esperar que os “inferiores” não ajam, se calem como o restante dos moradores, se isolem, se matem ou deixem ser mortos pelos militares. Errado! Com uma argúcia ímpar, a autora ousou nesse ponto. Friso o verbo “ousar”, pois nunca li algo que se assemelhe a isso: Esther deu um motivo a mais para que a personagem prosseguisse em seu plano antigoverno, fazendo-a se unir aos próprios militares. Como em todo regime, seja democrático ou não, há militares que se opõem às regras que lhes são impostas. Nada mais justo que incluí-los numa obra literária, não é mesmo? No entanto, a teoria sempre foi mais fácil do que a prática: como uma mulher sem conhecimento bélico tiraria alguém – por mais medíocre que fosse – do poder? (Não poderei me aprofundar nessa questão para não tirar o encanto da leitura). Mesmo com todo o cenário de morte, destruição e tragédia (que particularmente adoro ler), A Marcha dos Javalis mostra o quão é necessário ter alguém especial por perto; para te tirar sorrisos quando chega em casa, para te abraçar quando você só precisar repousar num ombro amigo ou para, simplesmente, poder amar sem motivo, sem interesse, sem esperar que algo novo aconteça porque você tem a convicção que o sentimento por si só se renova. COMPRE AGORA Ficha Técnica Título: A Marcha dos Javalis Autora: Esther Lya Livonius ISBN-13: 9788584420490 ISBN-10: 8584420495 Ano: 2015 / Páginas: 256 Idioma: português Editora: Pandorga SINOPSE: Alberto é um homem de hábitos. Ou melhor, era. Bem vestido e com a postura sempre correta, seus dias seguem precisamente uma rotina sem nenhuma alteração. Sempre pontual, sempre igual, sempre solitário. Porém, toda a impecável rotina de Alberto vai por água a baixo no dia em que ele é demitido após anos de serviços prestados rigorosamente. Perturbado pela mudança repentina, sentia que nada pior poderia lhe acontecer até receber uma última visita que provaria o contrário. Aquele dia era para ser seu último, mas devido a um problema com uma clausura contratual, ele não pode morrer, nem continuar vivo. A Morte, reconhecendo o quão complicado é o impasse, tem uma ideia ousada e lhe propõe uma solução que supostamente beneficiaria ambos. Agora Alberto se vê em uma situação que pode mudar toda sua visão sobre a vida e o mundo que o cerca para sempre em sua busca por descanso… Isso se algo maior não se impor no caminho. A Morte é um problema inerente à humanidade e todas as criaturas, e mesmo assim ainda é um mistério. Como todo mistério, abre diversas portas no subconsciente humano, o que faz com que cada indivíduo tenha uma opinião a seu respeito; portanto, é natural que existam pessoas que a idolatrem ou que acreditem que ela seria uma chance de uma nova vida, como também há pessoas que tentam evitá-la a todo custo.
A Morte Veste Roxo, do autor João Marciano Neto, aborda algumas dessas questões, contudo sem perder o bom humor. O autor ousou bastante ao dar uma nova roupagem ao tema. No enredo, A Morte surge em sua forma humana para Alberto, um homem extremamente comum, e faz a ele uma proposta: transformá-lo num morto-vivo. O que a motiva a sugerir “tamanho absurdo” foi explicado maravilhosamente bem pelo autor que, mais uma vez, provou ser de uma sagacidade ímpar: Todos os humanos têm um prazo de validade e, depois de certo tempo, A Morte surge para levá-los. No entanto, mesmo que a validade de um humano esteja vencida, para que o serviço possa ser executado pelo ceifeiro é essencial que a pessoa em questão tenha gasto determinada quantia de energia. Alberto, por ser alguém tão comum, de hábitos, que não tinha emoção alguma na vida além de um trabalho qualquer, acabou não excedendo suas energias necessárias. Um problema para A Morte: ela precisa matá-lo, mas o homem ainda tem créditos a gastar. Deste modo, A Morte não poderia causar mal algum àquela criatura. Como se isso não fosse o suficiente, o homem acaba se tornando um farol para entidades malignas que desejam possuí-lo. Um humano que não pode ser morto, mesmo que A Dama de Roxo se esforce, é um bem mais que precioso para alguns entes espirituais mal-intencionados. A solução encontrada não poderia ser outra, transformá-lo num zumbi, embora não tirasse o atrativo de uma possível imortalidade, desviaria a atenção da maioria dos demônios. A verdadeira aventura aparece após a transformação de Alberto, então começamos a ver personagens mais interessantes. Alberto, apesar de ser o protagonista, não é uma das pessoas mais apaixonantes que você verá na vida. Como mencionado, ele é um homem de hábitos e não tem muita emoção em seu cotidiano; em poucas palavras, tudo o que ele faz é robotizado. Assim que foi transformado, ele acaba conhecendo melhor seu vizinho, Matheus. Matheus foi citado anteriormente em apenas uma linha na obra: eu não fazia a menor ideia que ele seria o personagem mais cativante. “ Tudo que menos queria nesse instante era ter que encarar seu vizinho, um jovem nerd que vivia lhe enchendo com assuntos banais.” Conforme a citação acima evidencia, Matheus era jovem e nerd, logo seus assuntos se resumiam a jogos, séries e quadrinhos. Não que ele fosse uma pessoa limitada, na verdade era um jovem bem articulado; todavia, temas como esses despertavam mais o seu interesse. O que deixou a obra muito – muito mesmo – atraente para mim, que sou apaixonado por esse universo. O autor faz menção a clássicos de cinema e também uma breve passagem pelo Zombie Walk, uma passeata de mortos-vivos que acontece em grande parte do mundo e que eu participo há quatro anos em São Paulo. Quando recebi A Morte Veste Roxo, eu ainda não conhecia o trabalho do João M. Neto, mas confesso que foi uma experiência única ler a sua obra mais recente. Os parágrafos são breves, a linguagem é de fácil compreensão e todas as lacunas vão sendo preenchidas à medida que avançamos na leitura. Em resumo, A Morte Veste Roxo, além de trazer questões muito profundas sobre a vida, morte e religião, se torna um excelente tirocínio para todos, pois o autor, ao passo em que os personagens partem buscando uma solução para todos os seus problemas, estabelece conexões entre a convivência humana e também nos mostra como uma amizade aparentemente impossível pode se tornar nosso único refúgio. COMPRE AGORA Ficha Técnica Título: A Morte Veste Roxo Autor: João Marciano Neto ISBN-13: 9788566725735 ISBN-10: 8566725735 Ano: 2015 / Páginas: 295 Idioma: português Editora: Buriti SINOPSE: “Seja bem-vindo, leitor incauto! Eu sou O Anfitrião! Fico muito contente que você tenha chegado até aqui para conhecer a arquitetura do my master! Nesta obra sepulcral sua ótica humana será ofuscada por visões grotescas. Folheie as próximas páginas... Abra a porta e entre na cripta dos insanos. Durma na pedra fria do Mausoléu e tenha pesadelos eternos, he, he, he, he”. A temática do terror sempre despertou nos leitores os mais diversos sentimentos. Os corajosos são tomados por algo que se assemelha a admiração, se inspiram na forma de escrita de seus autores prediletos e continuam espalhando o pavor entre os mais temorosos.
Mausoléu, obra de Duda Falcão, tem como intuito restaurar o terror no âmago dos mais covardes - e não só dos covardes, acredite. A obra não se deixa prender apenas pelo "terror" propriamente dito e mescla também a ficção científica e a literatura fantástica. A essência dos contos que foram reunidos, em certos momentos, se mistura a tal ponto que a obra toda parece ser um livro contínuo e não somente a junção de diversas pequenas histórias. Meu próximo comentário pode parecer capcioso, todavia os contos de terror apresentam uma analogia a Edgar Allan Poe; em alguns, podemos sentir mais diretamente essa ligação porque o próprio autor brasileiro se espelhou no americano. E, devo salientar, o fez com maestria. Desmentindo algumas origens e reforçando outras, Duda Falcão conseguiu reunir em apenas um livro tudo o que mais assombra a mente humana; do horror sobrenatural ao psicológico. Não me baseio em nada específico para tal afirmação, mas notei que a intenção do autor não era a de apenas apavorar os seus leitores, pois Mausoléu estabelece uma reflexão, mesmo que tênue, sobre tudo o que o homem mais preza; seja a vida ou bens materiais. Um conto que chamou bastante a minha atenção foi Fantasmas do Tempo, uma história narrada em um mundo futurista e que apresenta uma ligação profunda tanto com a sede insaciável de vingança como a curiosidade por si só. Nesse mundo criado pelo autor, os personagens desenvolvem pílulas capazes de transportá-los através do tempo, entretanto nem todas as pessoas têm direito a desfrutar desse privilégio e ficam à mercê de uma sociedade imperialista – Aqui devo observar que tal sociedade já está presente em nossa realidade e que em um período histórico anterior essa mesma associação já regeu a Terra com mãos-de-ferro. Em suma, Mausoléu é um livro indicado para os amantes de terror, de fantasia e para todos aqueles que desejam se aventurar pelos pensamentos mais sombrios que permeiam a mente humana. FALE COM O AUTOR Ficha Técnica Título: Mausoléu Autor: Duda Falcão ISBN-13: 9788564076099 ISBN-10: 8564076098 Ano: 2013 / Páginas: 336 Idioma: português Editora: Argonautas SINOPSE: Convocado para servir em uma missão de dois anos na Igreja dos Santos dos Últimos Dias nos EUA e abdicar de seus afazeres pessoais, o jovem mórmon Elder está convicto que deverá cumprir o chamado missionário e dar sequência aos anseios de sua família. Porém, ao conhecer o novo vizinho, vê despertar dentro de si sensações incógnitas que o deixarão cada vez mais interessado por ele, levando-o a experimentar um mundo diverso e esconder a realidade de pessoas próximas. É quando a relação entre os dois fica mais intensa e Elder passa a ter dificuldade de lidar com a nova vida, colocando-o em dúvida sobre a missão. Quando nos deparamos com um livro que aborda a homossexualidade como assunto principal, sentimos um certo receio em ler. Em parte, alguns pensamentos negativos se permeiam em nossa mente pelo fato de que em nosso subconsciente associemos a homossexualidade diretamente à promiscuidade, o que não é verdade. Todavia, devido a diversos fatores - sejam sociais, culturais, religiosos ou educacionais -, essa é uma das frases que passarão pela nossa cabeça: haverá vulgaridade no enredo.
Àqueles que se arriscam um pouco mais, saem de sua zona de conforto uma hora ou outra, indico o livro Entre Garotos, de Pablo Torrens. Não faço a indicação levando o gênero da obra em consideração, mas o apresento por seu conteúdo. Embora a história narre o amor proibido entre dois garotos, o autor não se prendeu ao tema da sexualidade na criação da história; há diversos conflitos pessoais e familiares que muito se assemelham aos vividos por héteros também. Entre Garotos conta a vida de Elder, um membro d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (aqui devo deixar meus parabéns ao autor, que abordou de forma muito clara alguns dos vários ensinamentos dos mórmons), que vive um conflito interno gritante: ele tem apenas dezoito anos, sua família é extremamente tradicional, ele é convocado a servir em missão pela sua religião em outro país e, como se tudo isso já não fosse o suficiente, sentimentos confusos acerca de sua sexualidade acabam aflorando em seu âmago. Através de uma escrita muito sucinta, o autor faz uma reflexão profunda a respeito do que sempre julgamos essencial, o quanto estamos dispostos a arriscar para seguir nossos princípios e também o que fazer diante de uma situação adversa que nunca imaginamos que poderia ocorrer. Entre Garotos, arrisco a dizer, é uma obra que quebra os paradigmas do "romance" propriamente dito, pois apresenta não apenas uma relação entre duas pessoas, e sim estabelece uma conexão com o próprio leitor, que, além de observar de perto os sentimentos do protagonista, se identifica com diversas situações mostradas. Não poderei me prolongar sobre o enredo, pois a história é curta, e o romance é evidenciado – diria – somente como um plano de fundo: a narrativa é feita em primeira pessoa, portanto conhecemos todos os pensamentos de Elder, e contá-lo tiraria parte do encanto da leitura. O livro é indicado para todos, pois não há uma linguagem esdrúxula, não são apresentadas cenas de violência, de sexo tampouco. VISITE A PÁGINA DO AUTOR Ficha Técnica: Título: Entre Garotos Autor: Pablo Torrens ISBN-13: 9788568758021 ISBN-10: 8568758029 Ano: 2015 / Páginas: 192 Idioma: português Editora: Cadmo Sinopse: Karol estava nadando uma longa distância sem parar... Thamilis andando sobre um vulcão ativo... Layane andando sobre grandes nuvens... Hévelyn andava sobre pedras... Sonhos estranhos traçaram o destino de quatro garotas... Mundos desconhecidos, monstros, dragões, magia, trevas... Apenas uma certeza: elas devem salvar Atréfora, uma terra distante e devastada. Novos amigos, muitos inimigos, histórias marcantes, tramas envolventes e uma grande aventura. Incontáveis livros de fantasia já passaram por minhas mãos, dezenas desse mesmo gênero já foram destroçados pelos meus olhos horas a fio, entretanto poucos conseguiram cativar tanto a minha atenção como Histórias de Atréfora. Para aqueles que não são habituados à leitura de fantasia, onde, geralmente, o autor faz uma alusão ao verdadeiro e falso, criando o seu próprio universo, estabelecendo, em muitos casos, uma linha tênue entre o mundo humano e o imaginário, esse é o livro ideal. Explico: a forma com que os autores (Layane Ventura e Ismael Artur) descrevem o seu Mundo Mágico não implica em detalhes exagerados; a narrativa é extremamente breve, mas sem deixar de lado o charme que a nossa língua possui.
Na obra não há meio termo, os personagens são inteiramente bons ou maus. Simples assim. O que é fascinante para alguns, se torna forçado para outros. Particularmente, parto do princípio de que todos somos anjos e demônios, portanto temos nossa parcela de maldade, mesmo quando insistimos em fazer o bem. Todavia, devo salientar que, de modo algum, esse é um demérito na referida; muito pelo contrário, pois diversas pessoas acabam se identificando com a conduta dos personagens. A leitura é extremamente prazerosa justamente por conter um linguajar mais simples, sem os tradicionais "enchimentos de linguiça" que tanto vemos por aí. O enredo gira em torno de quatro garotas aparentemente comuns, mas que escondem um segredo. Na verdade, elas mesmas desconhecem esse segredo: Elas são pertencentes ao Sistema Elementium que, por sua vez, é composto por Aquária, Anão, Narx, Transluz, Planeta dos Dragões e Atréfora. Em uma situação muito inusitada, Karol, Thamilis, Layane e Hévelyn acabam descobrindo a sua origem, tal como o motivo de estarem na Terra e o porquê de terem que deixar tudo para trás e partirem para seu verdadeiro planeta. Um ponto extremamente positivo que pôde ser observado no livro foi a criação dos personagens. Todos têm uma história de vida bem estruturada, com dramas familiares, conflitos internos e por aí vai; e todos têm também uma personalidade própria, seus pensamentos não se assemelham em momento algum com os ideais de outrém mencionado na obra. Embora o livro seja classificado como infanto-juvenil, todas as faixas etárias podem se deliciar com as palavras impressas nas páginas de Histórias de Atréfora. E, acredite, você não conseguirá largar o livro até que a última palavra seja lida. Ficha Técnica: Título: Histórias de Atréfora Subtítulo: Uma transluza, uma anã e duas aquarianas Autores: Layane Ventura e Ismael Artur ISBN-13: 9789895116652 ISBN-10: 9895116659 Ano: 2014 / Páginas: 260 Idioma: português Editora: Chiado FALE COM A AUTORA (LAYANE VENTURA) |
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