A nossa primeira entrevistada é a Carolina Utinguassú Flores, uma autora excepcional, além de ser uma pessoa incrível e muito simpática. Confiram a entrevista abaixo, e descubram um pouco mais acerca de seu trabalho. Desenhando em Letras: Primeiro, gostaria de agradecer pelo carinho, pela confiança em meu trabalho e pelo tempo que você dispõe para responder a essas perguntas. Segundo, ao ler Medo da Chuva, seu conto publicado na coletânea Contos de Som e Silêncio, e que foi inspirado na música do Raul Seixas (ponto muito positivo), me fez ter uma visão bem diferente acerca dos momentos finais de um casamento. O que, de início, eu levava com naturalidade, tornou-se algo mais surreal, pois todas as dúvidas que surgem pela mente do protagonista me fizeram refletir bastante. Casamento não é somente um “eu aceito”, é a assinatura de um contrato que se baseia em amor e confiança. Qual era a sua intenção ao escrever esse conto? Que tipo de sentimento você desejava que fosse despertado nos leitores?
Carolina: Quando eu escrevi o conto, tentei unir a imagem que tinha da música e algo que pudesse despertar uma interpretação crítica pelo leitor. Então pensei no tipo de casamento que apenas serve de aparência, seja pra quem tem filhos e não quer magoá-los separando-se, seja pra quem é, de certo modo, carente e resolve se casar com alguém que cuida da sua casa, da sua saúde, mas, por outro lado, sufoca com ciúmes ou sentimentos de posse. Isso acontece muito na sociedade, o comodismo nos leva a ter medo da busca pela felicidade, isto é, ter medo da chuva. Desenhando em Letras: Ainda na “vibe” de Medo da Chuva, o que você julga essencial para que um casamento perdure? Carolina: Desde o início de um relacionamento deve-se manter o respeito, o companheirismo e a vontade de agradar ao parceiro; sendo assim, como tudo na vida, ser gentil vira costume. Quando nos acostumamos a agradar, o outro sente a mesma necessidade, o que se torna um processo cíclico. Desenhando em Letras: Em 2014, você foi premiada no concurso literário de Presidente Prudente – o Ruth Campos, pelo conto A Madrugada. Acredito que a experiência foi extremamente agradável, e gostaria de saber o que você sentiu ao ter o seu trabalho reconhecido. Carolina: Eu me senti muito emocionada principalmente pelo fato de ser uma cidade que proporciona muitos eventos culturais. Apesar de ser interior de São Paulo, a prefeitura de Presidente Prudente dá muito valor ao conhecimento e à cultura em geral. Estive na feira do livro deles, assisti a palestras, e o evento de premiação foi muito bem-elaborado, com homenagens, um grupo de música clássica e leitura de poemas. Além disso, amei conhecer novos lugares! Desenhando em Letras: A Madrugada é outro conto que traz uma reflexão bastante intensa. Ao contrário de Medo da Chuva, cuja ponderação é sobre o que eu julgo como início de uma nova vida (o casamento), esse conto aborda uma questão mais fúnebre, mas sem deixar a comoção de lado. Não se refere apenas à morte em si, mas abrange também a questão de uma alma amargurada, cheia de incertezas. Embora a morte seja algo natural, pois todos morreremos um dia, ela ainda é vista com receio; há quem tente evitá-la, inutilmente, assim como há aqueles que a aceitam. Qual é a sua visão a respeito desse fenômeno? Carolina: Realmente é um tema de muitas opiniões, que se divide, geralmente, entre os adeptos do espiritismo e do ceticismo. Para quem acha que a vida continua, que estamos sendo observados e rodeados por seres de outra dimensão, é mais fácil se identificar com a história. Talvez os que não acreditam nessa possibilidade tenham mais medo ainda da morte, do fim. E há, ainda, aqueles que não pensam nisso. De qualquer forma, é um assunto repleto de simbolismos e que envolve psicologia, tempo e memórias. Tanto crianças como adultos têm incertezas e podem julgar que não há nada mais importante nesse mundo quando perdemos um ente querido. Só há duas opções, ou você vive da melhor forma possível, ou se entrega a um mundo que não terá volta neste tempo; mesmo que sua alma volte, o cenário e os personagens do jogo já terão mudado, e a sua memória também. Então começa tudo de novo, rumo à estaca zero. Desenhando em Letras: Seu próximo trabalho, que será lançado em 2015 e que ainda não foi intitulado, será um romance, mas com um plano de fundo diferente: assassinatos de uma psicopata sexual. Que experiência podemos tirar com mais essa história? Carolina: Um dia quero fazer histórias apenas bonitas ou, quem sabe, de ficção científica, mas ainda não consegui deixar de ser uma pessoa crítica. Quero fazer os leitores pensarem nas origens do mal e nas consequências da hipocrisia e da cegueira. Acho que a literatura tem papel fundamental na nossa cultura. Minha intensão, em meu próximo trabalho, é divertir com cenas arrojadas e picantes e ao mesmo tempo apresentar realidades sociais que nem sempre nos damos conta ou que, ainda, permanecem sem solução. O título do meu livro é Plátano & Bordo: de fora para dentro, pela Editora Multifoco. Espero que gostem. Desenhando em Letras: Ao contrário de alguns autores, que se prendem a um único gênero, você escreve sobre tudo um pouco. Já se perdeu em algum momento, sem saber ao certo o que escrever ou como dar continuidade? Carolina: Na verdade não, quando eu penso em um tema e um motivo, apenas escrevo. Posso escrever sobre qualquer coisa e associar a uma ideia principal, afinal, escrever um livro é um projeto. Por isso, é preciso fazer muita pesquisa, para que a história pareça verossímil. Desenhando em Letras: Para encerrarmos, qual é a mensagem que você passaria para as pessoas que ainda desconhecem o seu trabalho? Carolina: Para os amantes da literatura, convido-os a conhecer meu blog (Refletir na Árvore), meu romance que está a caminho e, se possível, que façam comentários (adoro)! E para os que preferem ver filmes ou novelas, sugiro que não somente conheçam meu blog, mas que também criem o hábito da leitura, pois, além de adquirir cultura, é importante visitar outros mundos, fugir da loucura da vida real e imaginar — considerando que esse é um elemento que filmes, novelas e séries nos tiram: nossa imaginação individual. Carol, muito obrigado por essa incrível experiência. *....* Leia a Análise do livro Contos de Som e Silêncio, que a Carolina foi coautora. |
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