SINOPSE: Baingani vive há século num sistema, a Política Vermelha manda e ponto final. Mas embaixo da sua cidade, embaixo da Praça Vermelha que já viu tanto sangue, embaixo das pessoas que já ouviram tantos gritos de tortura, se encontram os túneis. Túneis tão secretos quanto seus donos e a origem das Políticas. E são nesses túneis que se encontram as respostas. É em cada símbolo azul, que se encontra a resistência que lutará pela liberdade. Em um mundo onde homens lideram, o que você fará? O que fará quando está confinado à uma Política Vermelha, onde o mais simples ato de sorrir é completamente proibido? Embora eu não possa afirmar se essa é a linha definitiva de sua escrita, todos os livros da Esther Lya Livonius que eu li são embasados em críticas sociais, políticas e religiosas bem interessantes, e a autora escreve tão bem sobre esses temas que fica até difícil dissertar sobre mais esse belíssimo exemplar: É Proibido Sorrir. Dessa vez, novamente, a Esther fez uso de situações da sociedade moderna para enfatizar a carência de uma intervenção, seja ela qual for, para o aprimoramento da nossa comunidade terrestre, sobretudo no quesito liberdade individual do ser humano. No entanto, devo ressaltar, ao contrário de A Marcha dos Javalis (que recebeu uma avaliação muito positiva e que muito foi recomendado por mim), É Proibido Sorrir apresenta uma deficiência chata nas primeiras páginas do livro, que felizmente foi corrigida conforme a trama se intensificava, que é a necessidade exagerada de frisar que a Política Azul - representada apenas por mulheres, numa alusão aos princípios básicos do feminismo antes da revolução pela qual o movimento passou no início do século XX - luta pela igualdade entre gêneros, e não pela supremacia feminina.
A sociedade criada pela autora é regida por um sistema opressivo, que recai com maior intensidade sobre as mulheres. Mesmo que o termo "escravas" não seja mencionado na obra, a Política Vermelha, um governo dominado por homens, não as vê de outra forma: há leilões onde as moças, quando atingem a maioridade, são vendidas e têm de se submeter a todas as vontades do seu dono - vontades, essas, que podem variar do estupro à tortura mais cruel possível; isso, claro, se o homem não for burro a ponto de matá-la e perder o dinheiro investido na compra. Apesar de cruel, esse sistema escancarado - sem tempo para que o leitor possa respirar tranquilamente em momentos de romance do enredo antes de se ver envolvido em mais uma sessão absurda de tortura e muito sangue - é a grande sacada da obra e demonstra o envolvimento da autora com os acontecimentos mundiais do momento, além, é claro, de destacar a sua preocupação em fazer o alerta a quem ainda não conhece os perigos que podem afetar a sociedade ocidental com a crescente disseminação dos ensinamentos do Estado Islâmico - que reúnem desde a venda e compra de pessoas até a morte pela fogueira, que acontece muito na ficção da Esther. O livro pode parecer uma simples luta pela igualdade, o homem contra a mulher, mas é muito mais complexo do que isso: a mulher é privada do direito de sorrir, é obrigada a se submeter a diversas humilhações durante a sua vida; já o homem é também obrigado, obrigado a perpetuar esse tipo de sistema, a não agir como bem entende quando o assunto é relacionamento e está à mercê de uma série rigorosa de ensinamentos "masculinos". Em suma, É Proibido Sorrir mostra a resistência de mulheres, sim, contra um sistema opressivo determinado por homens, mas também deixa claro que a luta maior é de ideologias, sem gêneros, em prol da humanidade. |
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