SINOPSE: Coisas do coração é um livro de pensamentos sentidos verdadeiramente, não só poesias mais todo sentimento que vem a tona quando se está verdadeiramente apaixonado. É um tornado de sentimentos que devasta a alma e depois pede perdão ao coração, que como sempre perdoa tudo. É um apelo pelo sentimento que já não se têm quase nenhum respeito humano por ele, e que muitas pessoas já desistiram de sentir e transformam suas vidas em um prático convívio por medo de amar, sim é o amor, é ele que move o mundo de todas as formas. Não tenha medo, ame incondicionalmente. Poesias são simples, são suaves, são tudo o que as pessoas procuram quando precisam de conforto; ou seja, nada do que eu sou. Portanto, há de convir que a tarefa que a mim foi imposta não é fácil. O que falar de algo que mal conheço? Como se iniciar uma avaliação de um livro cujo teor é o oposto de tudo o que constitui o meu ser? Bom, a resposta é simples: deixei meu preconceito de lado em relação a poesias. Acredite, não foi uma tarefa simples, afinal havia anos que não lia textos do gênero. Coisas do Coração, a obra da Joana Amorim, reúne diversas poesias, umas mais curtas e outras mais longas, mas todas com a mesma essência. Todas se unem de maneira espetacular, pois retratam as angústias de um coração amargurado, mostram cotidianos e levam o leitor a pensar sobre algumas questões importantes, tais como o que julga ideal para a vida, o que preza em um relacionamento amoroso e, muitas vezes, apresentam breves explicações do porquê é bom estar sozinho. Claro que, aqui, algumas pessoas torcerão o nariz, porque quase ninguém é feliz sozinho, o que, além de admirável é estranho visto que a solidão é o único estado em que o ser humano pode realmente se encontrar, pode rever ideais, enfim, pode ser plenamente feliz. Como todas as poesias, de uma maneira ou de outra, contêm ligações entre si, julgo desnecessário falar de cada uma separadamente, por isso optei por fazer uma análise completa do livro - não é novidade aqui no blog. Coisas do Coração surpreende não somente pela sutileza empregada em cada palavra, mas também pelo impacto que cada poesia lhe causa após o término da leitura. Em suma, todas as poesias são suaves, mas que, no final, nos dão um choque de realidade. Isso não se deve necessariamente pelos textos, mas sim pela experiência de cada pessoa. A maneira com que o livro todo foi construído só comprova a minha teoria de que, ao escrevê-lo, a autora não tinha em mente determinado grupo de pessoas, e sim desejava atingir a todos por igual. As diferenças que você encontrará em determinadas poesias podem ser justamente o fator decisivo para que outro leitor aprecie a obra. Ficha Técnica
Autora: Joana Amorim Título: Coisas do Coração ISBN-13: 9788568511916 ISBN-10: 8568511910 Ano: 2015 / Páginas: 190 Idioma: português Editora: Autografia Lá fora, as últimas gotas de chuva caíam sobre a calha. Dentro da casa, o homem, furioso, mais uma vez agredia a esposa. Ela, entretanto, se encolhia num canto próximo ao sofá e chorava baixinho. Sabia que essa era a melhor forma para que o marido “aliviasse” a tensão de mais um dia inteiro de trabalho árduo e de que nada adiantaria resmungar. Suportou por anos esse tratamento. A ideia de sair de casa era utópica a ponto de sequer pontar em sua mente. Afinal, para onde iria? Seus pais há muito estavam mortos, não tinha mais ninguém, além, é claro, do homem com estatura mediana que lhe estendia a mão na cara todas as noites e seu único filho, Guilherme.
Fora por ele, talvez, que a mulher conseguiu suportar tantos anos de humilhação. E, também, por ter sido expulsa de casa quando engravidou ainda na adolescência. Era inaceitável, ressaltava o pai. Na época, contudo, de nada se importou em deixar o conforto do lar que seus pais haviam construído; o namorado era o príncipe encantado, um verdadeiro cavalheiro. Foi assim por alguns meses depois dela ter deixado tudo para trás em outra cidade, até que ele finalmente mostrou sua verdadeira face. Já na primeira briga, percebeu que seria melhor não contrariá-lo. A sua gravidez estava em risco, e não queria que nada ruim acontece à criança que nasceria em poucas semanas. Ele nunca a deixou trabalhar. Ela devia se sujeitar apenas aos afazeres domésticos. E foi assim que tudo teve início. Foi assim que sua vida, que ela ansiava por virar um conto de fadas, se tornou um martírio. Lá fora, as últimas gotas de chuva ainda pingavam lentas sobre a calha, enquanto o homem saía para a rua. Determinada, ela se levantou de onde estivera encolhida, correu ao quarto do filho; ele dormia. Deu um beijo suave sobre sua face, e as lágrimas dela pingaram sobre o rosto claro do garoto. Desceu apressada para a cozinha, pegou uma das facas no faqueiro, olhou pela janela; o sol deixava escapar raios fracos que se infiltravam por uma pequena abertura e iluminavam seu olhar maculado pelas lágrimas. Sorriu e, com um único golpe no pescoço, caiu morta no chão. Lá fora, a última gota de chuva escorreu pela calha e caiu sobre uma flor recém-plantada no canteiro. SINOPSE: Capital gaúcha, presídio feminino. Rosana é uma dançarina que corre contra o tempo para fazer sua faculdade e manter seus dois empregos. Ela passa a ser ameaçada por um dos clientes da Boate Pleasure, onde se apresenta em algumas noites. Na tentativa de se libertar desse inconveniente acaba cometendo um assassinato. No presídio Madre Pelletier, ela conhece sua psicóloga e futura grande amiga, Tereza, que lhe dará apoio nos momentos dolorosos e de aprendizado que se passam nesse ambiente. Após sua saída da prisão, outros assassinatos ocorrem, característicos de uma psicopata sexual. Nem mesmo amorado, familiares, amigos ou conhecidos desconfiam do que essa mulher é capaz. O que, a princípio, parece mais um romance erótico destaca-se pela diversidade linguística e pelo mistério que cerca cada um dos personagens. Plátano e Bordo, da autora Carolina Utingusassú Flores, conseguiu reunir o erotismo e o suspense de maneira formidável. Ambientado no Sul do país, Carolina nos apresenta um texto rico em linguagem, tanto pelo uso bem empregado dos pronomes pessoais que os sulistas costumam utilizar - mais frequentemente que eu, do sudeste – quanto pela mudança de personagem para personagem, que ocorre de maneira muito natural. A história gira em torno de Rosana, uma dançarina que, após matar em legítima defesa, acaba presa e exposta a imensuráveis humilhações. Ainda em cárcere, Rosana expõe, através de suas conversas com a psicóloga Tereza, toda a sua vida, seus temores e amores que culminaram em sua prisão. Contudo, devo salientar que o texto não se prende somente a isso. A narração, embora tenha foco principal na dançarina, nos apresenta à vida da psicóloga e demais personagens. A trama se intensifica após a saída de Rosana do presídio, quando assassinatos cada vez mais estranhos - pois apresentam, além dos requintes de crueldade, aspectos de rituais - começam a acontecer. O interessante nesse ponto é que os assassinatos são de homens, então quebra o elemento misógino que tanto acompanhamos na literatura. Cada parágrafo do livro contém o drama na medida ideal e, de certo modo, a insanidade que, muitas vezes, somos obrigados a reprimir no nosso subconsciente. Nas minhas análises, costumo levar alguns aspectos em consideração e raramente falo sobre a história em si. Por mais boa que a história seja, considero de suma importância enumerar os pontos pelos quais vale a pena ler a obra, além do enredo. Com Plátano e Bordo não poderia ser diferente, então apresento alguns pontos que foram levados em consideração:
Bem construído e com bastante ênfase sobre os aspectos que levam uma pessoa a se tornar um serial killer, Plátano e Bordo nos mostra que, independente do quanto temos controle sobre nossas vidas e temperamentos comportamentais, todo ser humano, em um momento ou outro, pode sucumbir aos prazeres que só a vida de um semelhante sendo arrancada por suas próprias mãos pode proporcionar. FALE COM A AUTORA E ADQUIRA UM EXEMPLAR FICHA TÉCNICA: Título: Platano e Bordo Autora: Carolina Utinguassú Flores ISBN-13: 9788584733385 ISBN-10: 8584733388 Ano: 2015 / Páginas: 206 Idioma: português Editora: Multifoco A estrada da vida sempre foi longa, e mesmo assim ele continuou seguindo. Um dia, desistiu. Queria que a estrada se encurtasse, queria se manter parado naquele ponto do mundo observando as folhas que caíam lentas como a doença que o afligia, desejou morrer.
Então, dois lados de uma mesma moeda finalmente se encontraram. Ele se sentiu livre, se sentiu vivo. Olhos castanhos se encheram de esperança diante da tela de um computador antigo. Permaneceu andando. Mas percebeu, depois de um ano, que não são os diferentes que se completam, notou que a moeda seria mais bonita se só tivesse um lado. Assim, de novo sentou-se no vazio, e ali ficou. Esperando a morte que nunca veio... SINOPSE: Quatro jovens com aparentemente muito pouco em comum seguem em um antigo carro vermelho-sangue por uma estrada deserta. Nada indica que qualquer tipo de perigo possa estar em seu caminho naquela pacata noite. No entanto, após se depararem com uma esfera de luz e sofrerem um estranho acidente, Gabriel, Henrique, Débora e Beatriz acordam em um lugar desconhecido, onde tudo parece possível. Em meio a personagens e paisagens surreais, como o monte de rochas flutuantes e a perigosa fera da Gruta Sombria, eles encontram pistas de como podem voltar para casa, e se assombram com as coincidências que envolvem sua chegada a Enoua, como se essa já fosse esperada por alguém misterioso. Em uma incrível jornada que os fará conhecer mais sobre si próprios e aqueles que sempre estiveram a sua volta, eles irão descobrir que Enoua não é simplesmente um mundo distante, e que é preciso muito mais do que armas raras, amuletos cheios de segredos e armaduras indestrutíveis para se tornar um verdadeiro Guerreiro. Quando resolvi ler O Clã dos Quatro Guerreiros, do Diego Martins Ribeiro, esperava encontrar uma obra de fantasia, o que não aconteceu. Para que eu possa concluir a minha análise, devo adverti-lo, caro leitor que odeia spoiler, que haverá bastante. Portanto, é compreensível caso queira desistir da leitura desta resenha.
O enredo gira em torno de um grupo de pessoas que, durante um trajeto de carro, é transportado a um mundo diferente do qual está habituado. Gabriel, Henrique, Beatriz e Débora compõem o grupo em questão. Além de Beatriz e Débora, que são amigas há bastante tempo, os demais têm poucas semelhanças entre si, mesmo Henrique sendo o irmão mais velho da Beatriz. Nesse novo mundo, que mais tarde eles descobrem se chamar Enoua, uma confluência de eventos indica a saída, a tão esperada volta para o planeta Terra. No entanto, antes que possam ultrapassar a linha que separa ambas as realidades, os jovens se deparam com desafios atrás de desafios, e algo os leva a crer que a sua chegada a Enoua era esperada. Desse modo, novas questões se infiltram na mente de cada um; todos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais têm que compreender tudo o que os cerca, além de voltar ao seio familiar. Até este ponto acredito não ter revelado quase nada da história, então ainda não roubei o prazer da leitura. Contudo, agora, estabelecerei os principais motivos para a minha afirmação acima fazer sentido:
Somente com esses dois exemplos, posso concluir que o livro não trata sobre fantasia, e sim ficção científica. Pelo fato de o alienígena incorporar os elementos que encontrou na mente dos jovens, como Dragões – talvez de livros ou filmes -, armas que mudam de forma, artefatos e afins, a impressão que eles – e consequentemente os leitores – têm é de que a magia está presente tanto no mundo quanto no corpo de muitas pessoas e criaturas de lá, entretanto a magia nada mais é do que um reflexo de toda a tecnologia usada na construção de Enoua. Arrisco a dizer que o livro não é meramente uma aventura e serve como aprendizado. Não só para os personagens que nele habitam como também para os leitores, pois O Clã dos Quatro Guerreiros ensina que as amizades verdadeiras nunca morrem, nos mostra que nem tudo é o que aparenta e também faz breves reflexões que nos ensinam que, acima de qualquer coisa, sem termos em que nos apoiar jamais chegaremos ao nosso tão sonhado destino. Sinopse: Crescendo em meio a bonecas, Laura adquiriu um hábito incomum: costurar vestidos para os brinquedos. Dessa maneira, tornou-se destaque ainda na infância, quando costurava para as colegas da escola. Na fase adulta, contudo, Laura levou a carreira de estilista adiante, mas manteve o gosto juvenil: suas modelos jamais deixariam de ser bonecas. Cativando a atenção de grandes celebridades e pessoas comuns, Laura se destacou mundialmente, quando os modelos que as bonecas utilizavam começaram a ditar moda. Tal como qualquer pessoa, amores não deixaram de surgir em sua vida. Mas, após a chegada de determinada mulher, tudo tomou um rumo diferente. "Não há nenhum mal em falar com bonecas, o problema é quando as bonecas resolvem responder", diriam os sábios... "A Boneca Fantasma", de Fernando Nery, evidencia precisamente a sede insaciável que o ser humano tem por tudo o que está além, a sede incontrolável pelo poder, pela fama, pela glória e pelo amor proibido.
É admirável a forma com que, por meio de parágrafos breves, o autor soube conduzir a história e manteve o suspense do início ao fim, de modo que o leitor pudesse entender que, muitas vezes, nem tudo pode ser compreendido apenas com simples relatos ou conversas olho a olho. Embora, de certo modo, o título indique o “culpado” por diversas atrocidades que acontecem no decorrer da trama, a maneira com que a história é apresentada não vai direto à motivação para que tais atrocidades pudessem ser concretizadas. O enredo gira em torno de Laura, uma mulher que, depois de muito esforço, consegue atrair a admiração do mundo todo através de suas criações: roupas para bonecas. Os modelos fizeram sucesso a ponto de ditarem moda, e a estilista conseguiu cativar o respeito tanto de celebridades como da população comum. Além disso, Laura se torna amiga de uma famosa atriz, Merlin Navarro, e é aí que a verdadeira aventura se inicia. Confusa a respeito de sua sexualidade e também sobre os sentimentos que nutre por Merlin, Laura, como a maioria dos homossexuais que foram criados em meio a um sistema religioso, se sente impura. De certa forma, acredita que a homossexualidade é um ato libidinoso e passível da punição divina. Tudo, é claro, confirmado em confissões que teve um padre. Ainda com a ideia de ser pecadora fervilhando em sua cabeça, decide esconder os sentimentos, se trancar, mas continua admirando a beleza estonteante da “amiga”, até que fofocas a respeito das duas, que decidiram morar juntas, surgem em tabloides. Os comentários maldosos resultam em uma atitude drástica tomada pela atriz, que se vê desmoralizada pela situação (...) A Boneca Fantasma começa a aparecer mais claramente após a atitude que Merlin tem em relação às fofocas constantes sobre a sua relação com Laura. (Não posso falar sobre o que a boneca representa nem o porquê de representar tanto na história, mas garanto que a surpresa vai agradar você). Ao contrário de Chuck, o Brinquedo Assassino, que retrata o terror de maneira mais nítida, onde o sangue jorra aos montes e podemos ver a matança se estender sem que ninguém pudesse impedir, A Boneca Fantasma traz à tona um terror mais sutil, brinca com o psicológico tanto dos personagens como o do próprio leitor, que pode sentir o tormento pelo qual Laura está passando e pode, talvez, se identificar com as dúvidas que permeiam em sua mente. O livro conta com uma boa dose de erotismo que, de certa forma, dá um toque especial à trama, pois mostra o quanto, independente de todos os tormentos vividos, os personagens ainda são humanos e o sexo é natural de todas as criaturas. Devo ressaltar também que a linguagem empregada quando há uma cena “hot” não é esdrúxula, no entanto algumas pessoas podem sentir aversão à leitura – talvez pela situação em que o sexo ocorre ou pelo simples fato do sexo ocorrer com... bem... que tal descobrir? COMPRE AQUI Ficha Técnica: Título: A Boneca Fantasma Autor: Fernando Nery ISBN: B0143HS9I0 Ano: 2015 / Páginas: 47 Idioma: português Editora: Amazon SINOPSE: Varke – A Cidade do Muro. Enquanto seus pacatos habitantes tentam levar uma vida normal, a cruel ditadura militar que governa o país oprime a todos com leis e penas cada vez mais duras. Em meio a esse cenário de caos, onde uma série de mortes sem explicação amedronta ainda mais a população, uma curiosa garota vai lutar contra tudo e todos para descobrir o que existe por trás dos muros e dos segredos que eles escondem. Uma emocionante história de amores e desafetos onde, apesar de tudo o que o destino nos reserva, os javalis continuam sempre marchando. Eternamente. Mais que um romance entre dois jovens, A Marcha dos Javalis, da autora Esther Lya Livonius, é uma crítica severa à opressão militar que, embora não seja evidenciada de forma mais rigorosa atualmente no Brasil, ainda atinge a maior parte da população e que pode, caso não nos policiemos, se exacerbar e se propagar pelo país.
Através de parágrafos breves e bem construídos, conhecemos Varke, a cidade do Muro, e seus habitantes. Em especial, somos introduzimos ao mundo particular de Kyia e Asir. Ambos, ainda na tenra idade, sentem uma paixão latente um pelo outro, que se intensifica com o passar dos anos, resultando em sua união conjugal. Durante quatro anos, os jovens sentiram, lamentaram e questionaram a morte de seu amigo e primo de Asir, Wile. Uma morte sem explicação, segundo as autoridades. O povo de Varke, ainda que não tenha resposta para muitas outras mortes que surgem a cada ano, apesar de serem submetidos a um toque de recolher, ter que se esconder nos limites de uma cidade guarnecida por um muro, se acovardou, desistiu de lutar, de tentar impor seus direitos, deixou de ser livre. Em contrapartida, um brilho fosco é despertado no âmago de Kyia, que é impulsiva e determinada; o tipo de mulher que todo homem quer por perto, seja para se sentir protegido com sua presença forte e impetuosa ou para “domá-la.” Após se deparar com um abuso policial, a mulher coloca a sua própria vida em risco, desafiando-o. Aí começa a afronta ao governo. “Vivemos num mundo onde falar é restrito. Ler é limitado. Escrever é censurado. E pesquisar é ilegal.” Como podem ver, os moradores de Varke vivem numa ditadura. Contra quem Kyia teria que lutar, a quem poderia recorrer? Às autoridades policiais, juízes, prefeitos? Não, não é bem assim que as coisas funcionam em um sistema ditatorial. As ditaduras sempre se utilizam de força bruta para manterem-se no poder e a aplicam de forma sistemática e constante. Além disso, todos esses servidores obedecem a uma instância maior, portanto é de esperar que os “inferiores” não ajam, se calem como o restante dos moradores, se isolem, se matem ou deixem ser mortos pelos militares. Errado! Com uma argúcia ímpar, a autora ousou nesse ponto. Friso o verbo “ousar”, pois nunca li algo que se assemelhe a isso: Esther deu um motivo a mais para que a personagem prosseguisse em seu plano antigoverno, fazendo-a se unir aos próprios militares. Como em todo regime, seja democrático ou não, há militares que se opõem às regras que lhes são impostas. Nada mais justo que incluí-los numa obra literária, não é mesmo? No entanto, a teoria sempre foi mais fácil do que a prática: como uma mulher sem conhecimento bélico tiraria alguém – por mais medíocre que fosse – do poder? (Não poderei me aprofundar nessa questão para não tirar o encanto da leitura). Mesmo com todo o cenário de morte, destruição e tragédia (que particularmente adoro ler), A Marcha dos Javalis mostra o quão é necessário ter alguém especial por perto; para te tirar sorrisos quando chega em casa, para te abraçar quando você só precisar repousar num ombro amigo ou para, simplesmente, poder amar sem motivo, sem interesse, sem esperar que algo novo aconteça porque você tem a convicção que o sentimento por si só se renova. COMPRE AGORA Ficha Técnica Título: A Marcha dos Javalis Autora: Esther Lya Livonius ISBN-13: 9788584420490 ISBN-10: 8584420495 Ano: 2015 / Páginas: 256 Idioma: português Editora: Pandorga SINOPSE: Alberto é um homem de hábitos. Ou melhor, era. Bem vestido e com a postura sempre correta, seus dias seguem precisamente uma rotina sem nenhuma alteração. Sempre pontual, sempre igual, sempre solitário. Porém, toda a impecável rotina de Alberto vai por água a baixo no dia em que ele é demitido após anos de serviços prestados rigorosamente. Perturbado pela mudança repentina, sentia que nada pior poderia lhe acontecer até receber uma última visita que provaria o contrário. Aquele dia era para ser seu último, mas devido a um problema com uma clausura contratual, ele não pode morrer, nem continuar vivo. A Morte, reconhecendo o quão complicado é o impasse, tem uma ideia ousada e lhe propõe uma solução que supostamente beneficiaria ambos. Agora Alberto se vê em uma situação que pode mudar toda sua visão sobre a vida e o mundo que o cerca para sempre em sua busca por descanso… Isso se algo maior não se impor no caminho. A Morte é um problema inerente à humanidade e todas as criaturas, e mesmo assim ainda é um mistério. Como todo mistério, abre diversas portas no subconsciente humano, o que faz com que cada indivíduo tenha uma opinião a seu respeito; portanto, é natural que existam pessoas que a idolatrem ou que acreditem que ela seria uma chance de uma nova vida, como também há pessoas que tentam evitá-la a todo custo.
A Morte Veste Roxo, do autor João Marciano Neto, aborda algumas dessas questões, contudo sem perder o bom humor. O autor ousou bastante ao dar uma nova roupagem ao tema. No enredo, A Morte surge em sua forma humana para Alberto, um homem extremamente comum, e faz a ele uma proposta: transformá-lo num morto-vivo. O que a motiva a sugerir “tamanho absurdo” foi explicado maravilhosamente bem pelo autor que, mais uma vez, provou ser de uma sagacidade ímpar: Todos os humanos têm um prazo de validade e, depois de certo tempo, A Morte surge para levá-los. No entanto, mesmo que a validade de um humano esteja vencida, para que o serviço possa ser executado pelo ceifeiro é essencial que a pessoa em questão tenha gasto determinada quantia de energia. Alberto, por ser alguém tão comum, de hábitos, que não tinha emoção alguma na vida além de um trabalho qualquer, acabou não excedendo suas energias necessárias. Um problema para A Morte: ela precisa matá-lo, mas o homem ainda tem créditos a gastar. Deste modo, A Morte não poderia causar mal algum àquela criatura. Como se isso não fosse o suficiente, o homem acaba se tornando um farol para entidades malignas que desejam possuí-lo. Um humano que não pode ser morto, mesmo que A Dama de Roxo se esforce, é um bem mais que precioso para alguns entes espirituais mal-intencionados. A solução encontrada não poderia ser outra, transformá-lo num zumbi, embora não tirasse o atrativo de uma possível imortalidade, desviaria a atenção da maioria dos demônios. A verdadeira aventura aparece após a transformação de Alberto, então começamos a ver personagens mais interessantes. Alberto, apesar de ser o protagonista, não é uma das pessoas mais apaixonantes que você verá na vida. Como mencionado, ele é um homem de hábitos e não tem muita emoção em seu cotidiano; em poucas palavras, tudo o que ele faz é robotizado. Assim que foi transformado, ele acaba conhecendo melhor seu vizinho, Matheus. Matheus foi citado anteriormente em apenas uma linha na obra: eu não fazia a menor ideia que ele seria o personagem mais cativante. “ Tudo que menos queria nesse instante era ter que encarar seu vizinho, um jovem nerd que vivia lhe enchendo com assuntos banais.” Conforme a citação acima evidencia, Matheus era jovem e nerd, logo seus assuntos se resumiam a jogos, séries e quadrinhos. Não que ele fosse uma pessoa limitada, na verdade era um jovem bem articulado; todavia, temas como esses despertavam mais o seu interesse. O que deixou a obra muito – muito mesmo – atraente para mim, que sou apaixonado por esse universo. O autor faz menção a clássicos de cinema e também uma breve passagem pelo Zombie Walk, uma passeata de mortos-vivos que acontece em grande parte do mundo e que eu participo há quatro anos em São Paulo. Quando recebi A Morte Veste Roxo, eu ainda não conhecia o trabalho do João M. Neto, mas confesso que foi uma experiência única ler a sua obra mais recente. Os parágrafos são breves, a linguagem é de fácil compreensão e todas as lacunas vão sendo preenchidas à medida que avançamos na leitura. Em resumo, A Morte Veste Roxo, além de trazer questões muito profundas sobre a vida, morte e religião, se torna um excelente tirocínio para todos, pois o autor, ao passo em que os personagens partem buscando uma solução para todos os seus problemas, estabelece conexões entre a convivência humana e também nos mostra como uma amizade aparentemente impossível pode se tornar nosso único refúgio. COMPRE AGORA Ficha Técnica Título: A Morte Veste Roxo Autor: João Marciano Neto ISBN-13: 9788566725735 ISBN-10: 8566725735 Ano: 2015 / Páginas: 295 Idioma: português Editora: Buriti SINOPSE: “Seja bem-vindo, leitor incauto! Eu sou O Anfitrião! Fico muito contente que você tenha chegado até aqui para conhecer a arquitetura do my master! Nesta obra sepulcral sua ótica humana será ofuscada por visões grotescas. Folheie as próximas páginas... Abra a porta e entre na cripta dos insanos. Durma na pedra fria do Mausoléu e tenha pesadelos eternos, he, he, he, he”. A temática do terror sempre despertou nos leitores os mais diversos sentimentos. Os corajosos são tomados por algo que se assemelha a admiração, se inspiram na forma de escrita de seus autores prediletos e continuam espalhando o pavor entre os mais temorosos.
Mausoléu, obra de Duda Falcão, tem como intuito restaurar o terror no âmago dos mais covardes - e não só dos covardes, acredite. A obra não se deixa prender apenas pelo "terror" propriamente dito e mescla também a ficção científica e a literatura fantástica. A essência dos contos que foram reunidos, em certos momentos, se mistura a tal ponto que a obra toda parece ser um livro contínuo e não somente a junção de diversas pequenas histórias. Meu próximo comentário pode parecer capcioso, todavia os contos de terror apresentam uma analogia a Edgar Allan Poe; em alguns, podemos sentir mais diretamente essa ligação porque o próprio autor brasileiro se espelhou no americano. E, devo salientar, o fez com maestria. Desmentindo algumas origens e reforçando outras, Duda Falcão conseguiu reunir em apenas um livro tudo o que mais assombra a mente humana; do horror sobrenatural ao psicológico. Não me baseio em nada específico para tal afirmação, mas notei que a intenção do autor não era a de apenas apavorar os seus leitores, pois Mausoléu estabelece uma reflexão, mesmo que tênue, sobre tudo o que o homem mais preza; seja a vida ou bens materiais. Um conto que chamou bastante a minha atenção foi Fantasmas do Tempo, uma história narrada em um mundo futurista e que apresenta uma ligação profunda tanto com a sede insaciável de vingança como a curiosidade por si só. Nesse mundo criado pelo autor, os personagens desenvolvem pílulas capazes de transportá-los através do tempo, entretanto nem todas as pessoas têm direito a desfrutar desse privilégio e ficam à mercê de uma sociedade imperialista – Aqui devo observar que tal sociedade já está presente em nossa realidade e que em um período histórico anterior essa mesma associação já regeu a Terra com mãos-de-ferro. Em suma, Mausoléu é um livro indicado para os amantes de terror, de fantasia e para todos aqueles que desejam se aventurar pelos pensamentos mais sombrios que permeiam a mente humana. FALE COM O AUTOR Ficha Técnica Título: Mausoléu Autor: Duda Falcão ISBN-13: 9788564076099 ISBN-10: 8564076098 Ano: 2013 / Páginas: 336 Idioma: português Editora: Argonautas SINOPSE: Convocado para servir em uma missão de dois anos na Igreja dos Santos dos Últimos Dias nos EUA e abdicar de seus afazeres pessoais, o jovem mórmon Elder está convicto que deverá cumprir o chamado missionário e dar sequência aos anseios de sua família. Porém, ao conhecer o novo vizinho, vê despertar dentro de si sensações incógnitas que o deixarão cada vez mais interessado por ele, levando-o a experimentar um mundo diverso e esconder a realidade de pessoas próximas. É quando a relação entre os dois fica mais intensa e Elder passa a ter dificuldade de lidar com a nova vida, colocando-o em dúvida sobre a missão. Quando nos deparamos com um livro que aborda a homossexualidade como assunto principal, sentimos um certo receio em ler. Em parte, alguns pensamentos negativos se permeiam em nossa mente pelo fato de que em nosso subconsciente associemos a homossexualidade diretamente à promiscuidade, o que não é verdade. Todavia, devido a diversos fatores - sejam sociais, culturais, religiosos ou educacionais -, essa é uma das frases que passarão pela nossa cabeça: haverá vulgaridade no enredo.
Àqueles que se arriscam um pouco mais, saem de sua zona de conforto uma hora ou outra, indico o livro Entre Garotos, de Pablo Torrens. Não faço a indicação levando o gênero da obra em consideração, mas o apresento por seu conteúdo. Embora a história narre o amor proibido entre dois garotos, o autor não se prendeu ao tema da sexualidade na criação da história; há diversos conflitos pessoais e familiares que muito se assemelham aos vividos por héteros também. Entre Garotos conta a vida de Elder, um membro d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (aqui devo deixar meus parabéns ao autor, que abordou de forma muito clara alguns dos vários ensinamentos dos mórmons), que vive um conflito interno gritante: ele tem apenas dezoito anos, sua família é extremamente tradicional, ele é convocado a servir em missão pela sua religião em outro país e, como se tudo isso já não fosse o suficiente, sentimentos confusos acerca de sua sexualidade acabam aflorando em seu âmago. Através de uma escrita muito sucinta, o autor faz uma reflexão profunda a respeito do que sempre julgamos essencial, o quanto estamos dispostos a arriscar para seguir nossos princípios e também o que fazer diante de uma situação adversa que nunca imaginamos que poderia ocorrer. Entre Garotos, arrisco a dizer, é uma obra que quebra os paradigmas do "romance" propriamente dito, pois apresenta não apenas uma relação entre duas pessoas, e sim estabelece uma conexão com o próprio leitor, que, além de observar de perto os sentimentos do protagonista, se identifica com diversas situações mostradas. Não poderei me prolongar sobre o enredo, pois a história é curta, e o romance é evidenciado – diria – somente como um plano de fundo: a narrativa é feita em primeira pessoa, portanto conhecemos todos os pensamentos de Elder, e contá-lo tiraria parte do encanto da leitura. O livro é indicado para todos, pois não há uma linguagem esdrúxula, não são apresentadas cenas de violência, de sexo tampouco. VISITE A PÁGINA DO AUTOR Ficha Técnica: Título: Entre Garotos Autor: Pablo Torrens ISBN-13: 9788568758021 ISBN-10: 8568758029 Ano: 2015 / Páginas: 192 Idioma: português Editora: Cadmo |
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