Munidos de cartazes, roupas manchadas de giz, apenas, lá estavam todos eles, agrupados, esperando o momento de adentrar o plenário da Assembleia. Não havia necessidade, nunca houve. Entretanto, outro grupo juntou-se mais adiante. Esses, sim, pareciam perigosos: munidos de armas, cacetes e... vejam só: Cães. E tal como os animais, cuja fúria era refletida através de seus olhos, os policiais deram um passo à frente.
As primeiras bombas de efeito moral foram lançadas, iniciando assim o que mais tarde chamariam de confronto. Os olhos ardendo como se estivessem expostos às brasas. Gás lacrimogêneo?! Os cachorros grunhiram alto, latiram e avançaram. Ataquem! Ouviu-se a ordem. Continuando firme, não recuando, os docentes insistiram... investiram em busca de seus direitos, em vão. Mais policiais agruparam-se em torno do prédio, mais gás lacrimogêneo fora lançado, e também... - Meu Deus - Balas de borracha!! Alguns continuaram em pé; o sangue escorrendo pelas feridas do rosto, a camisa maculada pela vermelhidão dos ferimentos, enquanto suas vozes se tornavam gritos de dor. "Cumprimos ordens!" Bradaram alguns policiais, embora não percebessem que impediam o avanço do país, embora não se lembrassem que outrora foram alunos. A geração que antigamente matava aula, resolveu, então, matar também os professores... ou o progresso do Brasil. Sinopse Quando os estandartes inimigos se aproximam, apenas a magia do escolhido é poderosa o suficiente para proteger o reino de Hynneldor. Contudo, a princesa herdeira desapareceu há muitos anos, e aqueles que ousaram procurá-la jamais retornaram. Mas a esperança é uma arma poderosa, e a descoberta de uma jovem na misteriosa Ilha de Ashteria pode mudar o destino de todos. O desconhecido sempre despertou os mais diversos pensamentos na mente das pessoas: medo, apreensão e, até mesmo, curiosidade. Flora era moradora da Ilha de Ashteria - um lugar extremamente calmo, que não lhe tirava suspiros românticos, e sim, lamentos de tédio -, que ao ser deparada com uma visita inesperada é obrigada a tomar uma atitude tão drástica que mudaria o curso de sua vida e de todos à sua volta; de seus oito irmãos, de seu pai, e também da pessoa mais importante em sua vida, sua mãe. Descobrimos, com a chegada de Dimitri e Nathair, que a garota é a herdeira do trono de Hynneldor, todavia, o mais impressionante é a forma com que a autora, Karen Soarele, nos apresenta tal revelação; não há rodeios ou motivos para lágrimas, não há frases que impactam, mas também não deixa nada a acrescentar: “Dimitri se voltou novamente para ela, e colocou as mãos ensanguentadas na cintura. Olhou-a por um momento, como se pensasse na melhor forma explicar a situação. Mas paciência não era uma virtude que possuía, e delicadeza também não. — Você é a herdeira do trono de Hynneldor. Seus pais morreram, e seu irmão assumiu. Mas a magia dele não é forte o suficiente para proteger o reino dos inimigos vindos de Vulcannus, e o povo está morrendo de fome” Pronto, com o trecho acima, acredito que todos tenham percebido: A família que Flora sacrificaria na sequência não era sua linhagem verdadeira. A partir de tal revelação, como é natural, instauram-se, na cabeça da garota, dúvidas, que se afloram e somam-se ao ódio. Ódio, pois julgava-se usada, enganada - tanto pela mulher que a acolhera ainda bebê, como o irmão mais velho, Latham, que sempre soubera da verdade e lhe privara. O que Flora desconhecia é que o rapaz a esteve protegendo o tempo todo; ao esconder sua origem, a intenção dele era de resguardá-la dos perigosos exteriores. Entretanto, depois de muito ponderar, a garota resolve partir em busca de respostas, visando reencontrar seus entes progenitores e, quem sabe, conseguir os esclarecimentos para as perguntas que se alojaram em seu âmago. Flora, ao passo em que viaja para tomar o trono, percebe que o reino carece de provimentos e, acima de qualquer coisa, proteção, pois uma guerra se aproxima. Ela trará a proteção que o povo precisa, ou ela não é a princesa perdida? Muitas garotas julgaram-se a herdeira, nenhuma assumiu a coroa. Por que com Flora seria diferente? Como a história é curta, devo ser sucinto também para que não lhes roube o encanto ao lerem o livro. Em um enredo repleto de traição e jogos de poder, o romance surge apenas como uma brisa suave através das páginas de A Rainha da Primavera, sem deixar de ser intenso. A forma com que a autora nos apresenta o romance entre duas pessoas que tão pouco têm em comum, nos faz refletir acerca de alguns valores que julgamos essenciais. Tal como a protagonista, que faz julgamento de todos os personagens que surgem na trama, podemos nos surpreender ao descobrirmos que nem tudo é o que se mostra, que o que estimamos certo se torna errado, apenas por um detalhe não aparente. Personagens: Flora: Por ter vivido longe de tudo, perdida em uma ilha que se isola do restante do mundo e onde a população é muito calma, a protagonista não é o tipo de pessoa guerreira, muito pelo contrário. Embora em alguns momentos possamos notar a sua força enérgica, Flora denota uma fragilidade ímpar, claro, resultado de uma privação excessiva – tanto do mundo que a rodeia, como de uma atitude mais impactante dos moradores da Ilha. Dimitri: Inicialmente, podemos sentir uma certa hostilidade da atitude desse protagonista, ele não se faz se desentendido, não usa meios termos, e muito menos demonstra seus sentimentos, entretanto, com o desenrolar da história, ele se mostra um exímio cavalheiro, sem deixar a habilidade no manuseio de espadas de lado. Nathair: Aparentemente um diplomata, é ele quem leva Dimitri até a ilha onde Flora estava abrigada. Um homem mais velho e experiente, que pode surpreender a todos com sua astúcia, ganância e... algo mais. Brodderick Carnell: Tido como o vilão da trama, ele é o general do exército dos Vulcannus, que deseja tomar o trono de Hynneldor. Um guerreiro de personalidade forte e, como não deveria faltar, arrogante. Há outros personagens, porém, sem impacto tão significativo no decorrer da história, portanto, mencioná-los seria visto como o tradicional “enchimento de linguiça”. O único ponto negativo do livro é que a autora não nos mostra com clareza a origem de Brodderick, o que o motiva a dar início a uma guerra tão desenfreadamente não fica muito visível. Apesar disso, A Rainha da Primavera é uma obra belíssima, e indicada ao público infanto-juvenil. Saiba mais:
Site da série * Blog da autora * Facebook (autora) * Facebook (livros) Twitter * Skoob * Youtube Quando nasceu, não lhe deram muita importância. Durante a infância, o consideravam estranho, chamavam-no de monstro. Ele cresceu ao som de Rock, dos antigos, embalado pelo ritmo do AC/DC, Black Sabbath e outros nomes tão erroneamente classificados como o Som do Diabo. Deixou de se importar também. Usou a máscara que todos lhe impuseram durante a vida, e tornou-se o monstro que muitos temiam. Hoje, é um monstro sim. Mentiroso, manipulador. Não vive nas sombras, não usa roupas que demonstram seu verdadeiro ser. Pelo contrário, usa terno. O monstro que todos temeram tornou-se o que agora todos chamam de governo. Se alimentando com o dinheiro dos pobres, enganando a todos e aumentando a sua fortuna. Mas quem disse que há julgamento agora? Não, não há. Agora, o monstro, com uma máscara nova, desfruta de todos os bens que se possa imaginar, sem que ninguém o chame assim novamente. Arrumaram-lhe novos apelidos, mas ele, há muito, tornou-se indiferente. Sinopse Fernanda é uma professora de trinta e poucos anos. Estava passando por problemas financeiros quando recebeu uma proposta um tanto ousada do colégio onde trabalha. Ela não teve como recusar. Nessa proposta, Victor, seu aluno, era o foco. Passando pela conhecida crise da adolescência, o piloto de downhill de dezoito anos está desencantado da vida. E nem desconfia do que estará para acontecer a partir do momento que os planos do destino forem colocados em prática. Como o próprio título sugere, o livro é desafiador.
Deixe o preconceito de lado por apenas um instante e mergulhe numa história erótica. Não se importe com o que andam falando sobre Cinquenta Tons de Cinza ou outros títulos similares, que muitas vezes alcançam o ápice sem terem sequer conteúdo, ou mesmo um romance - que são basicamente um mero apelativo sexual. De fato, em Challenger, você encontrará muita cena de sexo, uma linguagem extremamente vulgar. Sim, é exatamente essa palavra, pois o texto - quase todo - é narrado por um rapaz de dezoito anos, inexperiente sexualmente, que está com o desejo “à flor da pele”. Entretanto, uma linguagem mais rebuscada domina o enredo; a vulgaridade textual aparece apenas como uma pitada suave, justamente para lembrar ao leitor que um garoto é quem está contando a história. A obra descreve a vida de Fernanda, uma professora do Ensino Médio, que é contratada para seduzir um de seus alunos, Victor - citado como um dos meninos mais estranhos do colégio durante boa parte do relato. O que parecia muito simples a princípio, torna-se intenso e inovador quando o garoto, sem saber do programa em que a professora está envolvida, parte para a iniciativa, trancando-a numa sala, e... bom, deixemos os detalhes sórdidos de lado. Victor é o típico estudante que fantasia com uma professora, acha atraente mulheres mais velhas, mas, acima de tudo, é um garoto mimado. E, como tal, não mede esforços para ter seus desejos saciados. No texto, temos duas visões cruciais para a conclusão da história, o que torna a leitura deleitosa – engraçada também, eu ressaltaria. Em certos momentos, podemos nos entusiasmar com a excitação do garoto, que pensa ter conquistado a professora "mais gostosa do colégio". E, em outros, nos deparamos com algumas lamentações da mulher que, embora aprecie o momento com o aluno, sente-se imunda por fazer parte de um esquema tão asqueroso. Durante toda a nossa trajetória de vida, mesmo que por instinto, não fazemos nada por acaso. Tendo isso em vista, tente expor teorias para que a professora se sujeite à tamanha humilhação. Sim, esse é o sentimento - ou deveria ser - que uma mulher casada, com filha e que tem quase o dobro da idade do garoto, sente ao ter que instigar um aluno, provocá-lo com olhares, até que o ato físico se consuma. Logo nas primeiras páginas, percebemos o que virá a seguir, mas a forma com que o autor, Arthur Carvalho, descreve as situações, o desenrolar do romance, deixa tudo mais atraente. Apesar das trocas de carícias constantes, vivenciamos um amor marcante - meio juvenil -, mas que levanta suspiros das garotas mais românticas. Não posso deixar de registrar a minha indignação quanto à atitude de Fernanda no final da trama quando, ao deparada com a verdade sobre todo o plano, não esboçou resistência e se submeteu – mais uma vez. Durante todo o livro, ela denota uma ferocidade, sagacidade e dominação indescritíveis, mas no desfecho, uma fragilidade ímpar. Voltado ao público adulto, Challenger proporciona uma leitura muito aprazível, mas cômica diversas vezes. Talvez pela narrativa que nos é apresentada, ou pela ingenuidade de Victor, mas o fato é que obra é um prato cheio para os amantes do gênero. Há diversos personagens, não pense que o autor se limita apenas a esses dois, mas não convém mencioná-los, pois estragaria parte da surpresa. Texto de Lucas Kolombeski Pois dito era. Uma manhã de pouco sol, terra preta banhada de orvalho. A carroça vinha, carregada. Num deslize, algo rola da carga e cai no chão. Num deslize ainda mais infeliz, a pata do animal que puxa o automóvel a esmaga e acaba com sua chance de ir para a feira de sábado. Ferro na massa. Um dia se passa. Dois. No terceiro, então, um farfalho de penas fica cada vez mais alto. O lance é certeiro; o bico pega a presa e a leva para além das nuvens, a degusta e a devora sem só nem piedade. Os resquícios dentro de si percorrem um lugar obscuro, sombrio. Somente depois de longas horas é que ela finalmente é liberta. E de lá de cima do céu, pela segunda vez em seu curto período de existência, ela cai. Mas agora não há mais farfalhar de asas ou uma alma que lhe tenha dó. Agora ela está só, a mercê dos dias, do tempo, entregue a natureza à espera de sorte. E a sorte vem de forma natural. Uma manhã de pouco sol, terra preta banhada de orvalho. Aos poucos ganha ânimo, vida. Verde. Entre brisas e ventos, cresce firme. Funda sua própria base e dela toma seu sustento. Cresce. Resplandece. E gera. De tudo o que antes ninguém jurava que vingaria, tornou-se a fonte de alimento, de sombra. E de saber. Os anos passam. Num dia tão comum como todos os outros, nublado e fresco, eis que um jovem ambicioso se senta sob suas folhas. Não demora muito, uma fruta cai em sua cabeça. Essa fruta, uma vermelha e esplendorosa maçã, foi o estopim para que esse jovem revolucionasse o nosso modo de ver o mundo. Seu nome, para os íntimos, era Isaac. Isaac Newton. Sinopse Uma assustadora coletânea das nossas mais famosas lendas rurais em uma interpretação sombria do nosso ensolarado nordeste Reconstruindo mitos e lendas nordestinas, Maldito Sertão, de Marcio Benjamin, desperta em você os mais assombrosos pensamentos. Com uma linguagem um tanto coloquial, realçando as origens daquelas terras, podemos nos arrepiar a cada conto apresentado. Embora a ideia seja assustar os leitores com lendas de lobisomens, fantasmas e mulas-sem-cabeça, o livro tem um teor crítico e cômico, por assim dizer. Explico: a comédia surge como brisa suave para as pessoas que estão acostumadas com a narrativa "certinha", principalmente quando deparadas com expressões como "arrudiar". O senso crítico do livro se percebe justamente quando o autor faz uma análise bem estruturada acerca de aspectos corriqueiros dos nordestinos, e não deixa de incluir certas incoerências na Igreja Católica - principalmente se tratando de uma religião que - no nordeste - está muito presente desde que nos entendemos por gente. O primeiro conto, Casa de Fazenda, foi sem dúvida o que mais me instigou. Em uma narrativa fácil, podemos sentir toda a apreensão que pessoas comuns sentem quando a morte se aproxima lentamente, bufando em nossas "cacundas", trazendo consigo garras afiadas. "Apoiado na espingarda, o velho já não tinha mais a força: sentia como um bacurim deitado em cima do peito. Um punhado de areia soprando em seus olhos cada vez mais pesados." Estradinha de Barro nos faz refletir acerca do quanto parecemos insignificantes perante a tudo, o quanto a falta de dinheiro, de comida, nos torna mesquinhos. O conto narra os desaparecimentos de crianças pela cidade. Crianças que voltam abarrotadas de dinheiro. "Naquela vila, o dinheiro que aparecia abrandou a vigília dos pais; o que se comenta é que tem uns, já cansados de apanhar da fome e da seca, que à noite rezam para o seu menino desaparecer." Por se tratar de contos, sem ligação alguma entre eles, não podemos estabelecer uma análise mais ampla, mesmo porque afetaria a forma como cada leitor veria a história, mas, de forma geral, Maldito Sertão foi feito exatamente para os amantes do terror. Aqueles que não costumam se aventurar nesse gênero literário, possivelmente não visitarão o sertão após o término da leitura.
COMPRE AGORA FALE COM O AUTOR Sinopse Em 1996, Vida Sinclair, uma jovem escocesa criada na isolada comunidade de Old Valley, se vê sozinha no mundo quando seus pais adotivos são assassinados. Ela descobre através de Brianna, uma tia misteriosa, que foi adotada porque a mãe biológica, sua irmã Bonnibelle, foi dada como morta num trágico acidente de automóvel, e que seu pai biológico é um antropólogo de quem não se tem mais notícias desde que partiu para o Brasil, em meados de 1979, a fim de pesquisar a aldeia indígena Karipós, embrenhada na floresta amazônica. No entanto, ele e seu colega de pesquisa Lazarus Lefréve se deparam com a aldeia inamawá, dos índios invisíveis. Depois de sofrer queda de uma árvore, Gordon nunca mais é visto. Vida cresce, tem a sorte de conhecer o Professor Lefréve, torna-se antropóloga e, aos vinte e cinco anos de idade, empreende uma expedição para encontrar o pai. Mesmo atingindo seu objetivo, ela se sensibiliza com a situação da tribo ameaçada pela ação predatória de uma madeireira ilegal. Juntamente, com Blake, um colega de turma por quem sempre nutriu os antagônicos sentimentos de atração e intolerância; José Antônio, seu vizinho português que cria um plano para acabar com a extração ilegal de madeira; e Amana Inamawá, sua meia-irmã índia, Vida descobre que apesar das distâncias, as ações de todos nós afetam até mesmo quem vive em outro continente, pelo fato de tudo estar ligado numa rede invisível tecida pelos Criadores. Os quatro jovens aventureiros têm a chance única de conversar com o primeiro Criador. Segundo a lenda inamawá, há mais de um deus ou criador, incorporados às árvores das florestas, por isso são consideradas sagradas e devem ser preservadas. Estórias fabulosas, desencontros, encontros, romance, violência e conflitos sociais movimentam a vida de Vida Sinclair e dos demais personagens. Se algum dia já lhe disseram que a vida é uma tarefa fácil, que não haveria preocupações na sua jornada até a linha final, a morte, o iludiu completamente. A vida é um desafio contínuo, uma luta árdua por um espaço ao Sol, mas o que esperar de uma garota que traz essa simples palavra em seu nome? Que desde seu nascimento carrega dois tipos de vida: a sua própria essência vital e seu nome de batismo? Com certeza, nada de bom. "Vai se chamar Vida, que para nós, escoceses, significa amada, e no português, significa o espaço de tempo entre o nascimento e a morte." Vida Sinclair se vê, de uma hora para outra, sozinha no mundo. Quando seus pais adotivos são brutalmente assassinados, a única coisa que a garota poderia fazer era se isolar de todos de sua "aldeia" a fim de se definhar por completo, se perder entre os pensamentos de lamento, dor e revolta. Poderia. Decerto, o destino prega peças naqueles que julga desfavorecidos. O que parecia o fim, se torna o início, quando uma suposta tia, Brianna, resolve levá-la embora. O que a motivou a seguir uma mulher desconhecida numa jornada que parecia não ter fim, nunca saberemos dizer. Talvez a ausência de entes queridos, talvez a simples vontade de sumir, de esquecer aquele lugar onde teve seu único ponto de esperança roubado. Por viver em uma comunidade isolada, Vida precisa se readaptar ao mundo, às tecnologias que, embora sejam simples ao nosso olhar, são tão complexas como a existência do tempo para ela, e se maravilha como uma criança que ainda está dando seus primeiros passos. Como se isso tudo não fosse o suficiente, Brianna resolve lhe contar seu passado, desde que nascera numa família de camponeses até quando a sobrinha fora abandonada. Descobrimos, por fim, que Vida descende de bruxas. Errou, se pensou em magias voando de um lado para o outro e ondas de energia cruzando os céus. Brianna carrega a magia em sua mais pura simplicidade; colhe ervas, faz unguentos de cura, poções de amor e diversas outras feitiçarias. Uma jogada de mestre, devo admitir, pois retratou o que as bruxas eram em suas origens - ao menos o que deveria ser. Com uma forma indescritível de escrita, Marcia de Assis nos mostra como a jornada de uma típica garota escocesa, afastada de tudo, se torna uma incansável busca por respostas. Inicialmente, Vida descobre que, segundo os relatos de sua tia, sua mãe biológica teve a infelicidade de ser perseguida por fantasmas vingativos, o que culminou na sua morte precoce - resultado da queda de um penhasco. É compreensível que a garota, ainda aos seus quinze anos, fosse tomada por diversos sentimentos, da tristeza à dúvida. O que parecia um choque, tornou-se algo mais complicado (...) O ponto chave do enredo começa a partir do momento em que Vida adquire uma ideia resoluta em busca pelo pai desaparecido. Nessa caminhada, ela cruza com diversas pessoas. Dentre elas, podemos citar Blake, um afro-irlândes, colega de classe e que, no início, parece ser um encrenqueiro de primeira. Tudo começa com uma disputa pela nota mais alta da turma – ambos desejavam destaque, cada um por um motivo específico. Mas o que devemos, sempre, levar em conta é que nem tudo se resume a aparências e que as pessoas nos surpreendem, e, sendo dessa forma, Vida também se admirou ao notar que Blake era um galanteador de alto escalão (...) Com o desejo insaciável de querer conhecer o pai que nunca vira, Vida se torna uma antropóloga – profissão que fez a figura paterna vir ao Brasil, e desaparecer na Amazônia. – e elabora uma expedição. Em território brasileiro, a jovem conhece Amana, sua meia-irmã índia, jovem de personalidade e ideais tão fortes como aço: As pessoas morrem. Todos nós vamos morrer um dia. Na natureza, convivemos com o nascimento, o crescimento e a morte. Algumas plantas duram mais que outras, e assim acontece com os animais e com os homens. O que de imediato parece mais um dentre tantos outros romances, Metamorfose da Vida se mostra uma obra de conscientização - o brasileiro, talvez por ter sido explorado por séculos, e por séculos ter sido concebido pelos estrangeiros como um povo pobre, infelizmente tende a desvalorizar o que o país nos oferece - e prioriza a preservação ambiental. Em parágrafos curtos, a leitura é rápida e aprazível, e foi uma ideia genial unir contos indígenas com a cultura escocesa. COMPRE AGORA! Fale com a autora Ficha Técnica: ISBN-13: 9788543700977 ISBN-10: 8543700973 Ano: 2014 / Páginas: 268 Idioma: português Editora: Baraúna Texto de Lucas Kolombeski O que aconteceu naquela tarde de quinta-feira que antecedia a Páscoa ficou guardado em um lugar especial da minha memória. Na mente dos humanos, porém, talvez tenha ficado apenas nas estatísticas.
Só mais um, como disseram. Os homens fardados que ali estavam a serviço de paz, não só naquele dia específico, mas sempre, travavam uma guerra interminável. A guerra, dita contra as drogas, era um pretexto para aniquilar em massa os pobres inocentes. Pobres, e negros. Complexo do Alemão, 2 de abril de 2015. Fico escondida entre as paredes dos casebres que dominam o local. O fragor vindo de direções opostas preenche o vazio que resta nesse silêncio fúnebre. Meu trabalho por aqui não é raro. Dia após dia, noite após noite, ando por aqui atrás de almas que esvaiam dos corpos sem vidas. Mas não esperava que hoje o dia terminaria dessa forma. Observo a casa em frente de onde estou. Atravesso a viela sem ao menos tocar o chão e trago junto de mim a habitual tristeza. Entro pela janela. Mãe e filho estão no sofá, vendo televisão. Fico do lado da mulher, em pé. Não sei se ela tem ciência do cruel e injusto destino que rege a vida de seu menino – e a dela também –, mas sinto que seu olhar difere do comum. Instinto materno, é do que chamam isso. O rapaz suspira, levanta e se dirige à varanda de casa. Num instante está sentado novamente. Começa um tumulto lá fora e se ouve um grito de “Vagabundo!!” abafado por um ódio nato. Me aproximo do jovem que espia o céu. Um único tiro. Uma mísera bala perdida. Perdida? A mãe do menino assiste, incrédula, o crânio de seu filho bater no chão. Nesse momento eu já deveria ter me retirado, contudo algo me prende por mais um instante. Sua voz expressa um desespero sem tamanho, uma dor que jamais será curada. O homem responsável pelo disparo, fardado, alcança os olhos da mulher, que retribui vociferando em sua direção. O policial, por sua vez, aponta a arma para ela. Ela, chorando, afirma que ele já tirou sua vida. Os vizinhos e amigos agora circundam o local do fato. Hoje, véspera do dia em que se celebra a morte de Cristo, não é a Virgem que segura seu filho amado no colo, mas Terezinha Maria, mãe de Eduardo de Jesus, menino de 10 anos de idade, assassinado com um tiro de fuzil a queima roupa, dentro da própria casa. Só mais um, como disseram. Tão frio, tão escuro, tão distante, tão... solitário.
Há muito tempo, passei por uma experiência similar, mas era quentinho e não me sentia só. Podia ouvir a sua respiração, podia sentir o carinho que ela depositava sobre mim. Era meu cantinho quente, também escuro, mas eu não estava perdido. Sabia que ali ficaria por muito tempo, e que depois a veria. Conheceria seu sorriso, ouviria com mais nitidez aquela risada aveludada, e poderia contemplar seu olhar: como ele seria? Não tinha essa resposta. Lembro-me de estar agachado quando notei uma forte luminosidade. Não era a hora, ainda não estava pronto, pensei. O que diabos estava acontecendo? Por que está fazendo isso, mamãe? Foram perguntas não respondidas. Quando acordei, meus olhos não estavam mais fechados, mas a escuridão me rodeava, tal como agora. Era assustador, eu podia vê-la. Eu sabia como era a minha mãe. A mulher que me arrancou de seu útero, de meu cantinho quente, estava ali. Não sei quanto tempo se passou, mas ela segurava uma criança em seu colo, acariciando-lhe o rosto gentilmente; não era eu. Por que ele recebeu a oportunidade? Eu não era digno de vê-la pessoalmente? Nunca soube. A criança cresceu, e logo se tornou homem. Ainda podia ver minha mãe, mesmo de longe; a idade havia sido cruel, toda a sua beleza tinha dado lugar às marcas da velhice. Espere, o que é isso? Estou de volta, regressei ao meu cantinho quente. Parece que agora terei a chance de conhecer a mulher que, mesmo tendo me jogado fora certa vez, amo. Quanto tempo terei que esperar para ver a luz do dia? Parece que o dia chegou, vejo uma luz incômoda ao longe. Tão frio, tão escuro, tão distante, tão... solitário. Pelo visto, nunca fui a criança desejada. No dia 01 de abril de 2015, o rapper francês Stromae, publicou no YouTube um clipe em animação da música Carmen. O clipe mostra claramente o vício que muitas pessoas - inclusive eu - possuem em redes sociais. Tudo começa com o passarinho do Twitter que, ao ser alimentado constantemente, assume uma forma monstruosa. Decerto, a questão que fica na nossa cabeça é: o quanto estamos dispostos a arriscar nos envolvendo virtualmente? O protagonista do clipe deixa tudo em segundo plano para se empenhar em suas atualizações diárias nas redes sociais, e aos poucos é tragado pelo vício, sem notar. Simples assim. Tal como o vício em drogas e bebidas, o vídeo mostra que o vício virtual também pode se tornar um problema. Confiram: |
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